O ANJO AZUL (1930)
“Não sou uma actriz, sou uma
personalidade”- disse Marlène um dia. Uma personalidade, é certo, e mais: um
mito. Mito-mulher, mulher-mito de uma geração que foi a dos nossos pais.
Mito-mulher, mulher-mito de todos nós que que a descobrimos feita Anjo Azul
descido à cidade para desespero dos homens. Marlène é mais do que um nome. É
uma lenda. Lenda que não consegue ultrapassar a realidade porque Marlène
perdura para além da lenda que a não consegue totalmente abarcar. “No Oeste,
quando a lenda ultrapassa a realidade, nós imprimimos a lenda”: afirma-se no
final de “O Homem que Matou Liberty Valance”, de John Ford. Que fazer, porém,
quando a própria realidade ultrapassa a sua lenda? Que fazer quando as palavras
se mostram absolutamente impotentes para transmitir o que quer que seja que vá
além de uma simples aproximação? Já Robert Benayount (na revista Positif)
pusera idêntica questão: “Ela ultrapassa a obra de arte, por muito genial que a
obra seja e que se queira, a escolha e interpretação da verdade. Ela ultrapassa
até o próprio mito, sem se distanciar, sem o pôr em questão. Porque essa mulher
verdadeira, apesar do mito, vale sempre mais do que o próprio mito.”
Marlène nasceu em Berlin, a 27
de Dezembro de 1901. O nome de baptismo: Maria Magdalena Dietrich von Losch.
Filha de um oficial de cavalaria e de uma pianista, foi educada segundo uma
disciplina monacal que a levou a resguardar no seu íntimo a vitalidade e a
alegria de viver que a sua personalidade desde logo denunciaram. Conta-se até
que a mãe a obrigava a sair de casa nos dias mais frios do inóspito inverno nórdico,
levando-a a suportar estoicamente as maiores privações, da fome à sede, a fim
de lentamente a “despojar de todos os sintomas de angústia e descontentamento
que uma educação menos rígida poderia favorecer”. Os estudos secundários fê-los
em Weimar, e durante algum tempo dedicou-se ao piano e ao violino (onde poderia
ter sido uma virtuose, se não fora a existência de “um gânglio no nervo
primário do pulso esquerdo”), recebendo ainda lições de dança, equitação e
línguas estrangeiras. Antes de se estrear no teatro, frequentou o curso de Arte
Dramática de Max Reinhardt, célebre encenador alemão de inícios do século XX,
que revolucionou profundamente a estrutura cénica do teatro, com uma estética
de base expressionista. No que respeita aos intérpretes, Max Reinhardt era um
director experiente e exigente que deve certamente ter tido alguma influência
na formação artística de Marlène Dietrich.
Quando Josef von Sternberg a
descobre numa revista por ele considerada medíocre (“Zwei Kravatten”) já
Marlène (então casada com o argumentista e produtor Rudolph Sieber, de quem
teve uma filha) ostentava o corpo miraculosamente desenhado que Sternberg
saberia realçar, encobrindo-o com véus diáfanos e plumas, possuindo também
aquele rosto de volumes admiravelmente conjugados que lhe avivavam o mistério
inefável de uma sensualidade simultaneamente serena e obsessiva. A sua carreira
profissional fora, até aí, pouco promissora. Repartira o tempo entre operetas
medíocres, espectáculos de music-hall de terceira ordem ou pequenos e
insignificantes papéis em filmes que nunca deram a medida aproximada do seu
talento. Apesar disso, porém, Marlène fora dirigida por cineastas de
incontroversa importância como C.W.Pabst (“Die Freudlose Gasse”), William
Dieterle (“Menschen am Weg”), Joe May (“DieTragodie der Liebe”), Alexander
Korda (“Eine du Barry von Heute”), Arthur Robinson (“Manon Lescaut”), Maurice
Tourneur (“Das Schiff der Verlorenen Menschen”) ou Kurt Bernhardt (“Dia Frau
Nach der Man Sich Sehnt”).
A revelação de Marlène Dietrich
será, entretanto, obra do sexto sentido de um homem que soube olhar para lá das
aparências, descortinar o essencial de uma personalidade estranhamente rica e
fascinante. Uma das poucas mulheres que poderiam ser Lola-Lola e cantar o tema
de “O Anjo Azul”: “Ich bin von Kopt
bis fuss auf Liebe eingestellt” (“Sou toda amor, da cabeça aos pés”). Marlène
teve consciência da importância decisiva do seu encontro com Josef von
Sternberg e nunca se cansou de o repetir para que a quis ouvir: “Foi Sternberg
quem me descobriu quando eu não era ninguém. Acreditou em mim, fez-me
trabalhar, deu-me todo o seu saber, a sua experiência, a sua energia e
construiu desta maneira o meu triunfo”. Ou ainda, a famosa dedicatória a Von de
uma fotografia sua: “Sem ti não seria ninguém”. A isto responde Sternberg do
alto do seu orgulho e do seu incomensurável talento: “Marlène não é Marlène,
Marlène sou eu!” Mas quem era este Pigmalião consciente e autorizado?
Josef von Sterberg, vienense
por nascimento (29 de Maio de 1894), repartiu a sua juventude entre a Áustria e
os Estados Unidos. Em 1911 começa a trabalhar no cinema, numa firma de
expedição de filmes, graças à qual encontra William A. Brady, que o transforma
em seu assistente pessoal. Depois da guerra de 1914-1918, é Émile Chautard quem
lhe assegura largos anos de experiência como seu assistente. Por volta de 1924,
começa a solicitar a vários produtores que lhe permitam assinar a sua primeira
realização, o que consegue nesse mesmo ano pela mão do actor George K. Arthur,
que lhe dá uma oportunidade. Este foi o seu filme de estreia: “Salvation
Hunters”. A película entusiasma muito boa gente, entre os quais se contam
Chaplin e Mary Pickford, que o contratam para a Allied Artists. As
excentricidades de Sternberg preocuparam, porém, os patronos da A.A. e será a
Metro quem lhe irá propor nova obra. Aí dirigirá duas películas que outros mais
dóceis acabarão por ele: “The Exquisite Sinner” e “The Masked Birde” (1925). No
ano seguinte, Chaplin volta a interessar-se por Sternberg. Confiar-lhe-á um
projecto ambicioso que se destinava a fazer perdurar a glória de Edna
Purviance. Mas Sternberg faz de “The Sea Gull” outra obra maldita. De tal forma
que raros foram os eleitos que conseguiram assistir à única exibição deste
filme que os produtores resolveram arquivar. Foi assim que, em 1926, Sternberg
se encontrou arruinado e perseguido numa Hollywood cada vez mais hostil. Depois
de uma viagem a Inglaterra, regressará sob contrato da Paramount. Com um
argumento violento e inovador de Ben Hecht, inspirado no gangsterismo
americano, Sternberg dirige, em 1927, o filme que lhe abre finalmente as portas
do êxito e o leva a ser considerado um dos “dez melhores realizadores
americanos do ano”: “Underworld”. O filme valeu um Oscar a Ben Hecht e ofereceu
a Sternberg numerosas propostas, entre as quais “The Case of Lena Smith”
(1929). Emil Jannings, que trabalhara com ele em “The Last Comand”, pede-lhe
por seu turno que o volte a dirigir no primeiro filme sonoro. Foi assim que
Sternberg escolheu o romance de Heinrich Mann (irmão de Thomas Mann):
“Professor Unrat”, para adaptar ao cinema e que estaria na base de “O Anjo
Azul”. Em 1929, portanto, Josef von Sternberg encontra-se em Berlin e aí irá
iniciar a escolha de uma actriz para um papel por si idealizado: Lola-Lola, a
mulher destruidora que arrastará até à mais completa degradação um velho e
austero professor, intolerante e severo, que por ela se deixa prender, viajando
ao “fundo da noite” ou “descendo ao inferno” do desespero e da traição.
Duas personalidades invulgares
irão encontrar-se por força do destino. Esse encontro, visualizado em “O Anjo
Azul”, será simultaneamente o deflagrar de uma paixão impetuosa. Mas, como se
terá passado na realidade nos bastidores? Isso mesmo nos conta o próprio Josef
von Sternberg em páginas das suas memórias (“Fun in a Chinese Laundry”):
“O livro de Heinrich Mann
descreve brilhantemente a mulher amoral, cujos atractivos conduziram à perdição
de um professor de liceu. Os meus colaboradores disseram-me que a história era
autobiográfica. Fosse o que fosse, o certo é que me apresentaram uma madura e
muito digna senhora alemã que se considerava a sedutora apropriada para o papel
da excitante prostituta. Mas a maior parte das que desfilaram frente aos meus
olhos nunca poderiam ser Circe, a não ser para um grupo de cegos. Enquanto
ditava o meu guião, uma procissão de formosas mulheres chegava até mim para
revelar os seus encantos, que teriam sido bem mais desejáveis se se tivessem
reunido todos numa mesma mulher. Uma rapariga tinha os olhos que faziam falta,
outra os movimentos graciosos, outra as pernas formosas, outras ainda uma voz
que prometia demoníacos prazeres, mas eu não encontrava maneira de fazer
interpretar uma só personagem por meia dúzia de mulheres distintas.
“( ... ) Prestes a iniciar a
rodagem, surgiu um certo mal-estar. Corria a notícia de que eu procurava uma
mulher inexistente. Folheando um álbum publicitário com o retrato de todas as
actrizes alemãs, detive-me sobre o rosto inexpressivo e pouco interessante da
senhora Dietrich e, dirigindo-me ao meu ajudante, como fizera em tantos casos
semelhantes, vi-o levantar os ombros, enquanto murmurava: “Der Popo ist Nicht
schlecht, abers brauchen wir nicht auch ein Gesicht?” (“O trazeiro não está
mal, mas não precisamos também de uma cara?”). A actriz foi, portanto,
imediatamente relegada como tantas outras e esquecida até ao momento em que,
pela maior das casualidades, fui ver uma obra de Georg Kaiser, intitulada “Zwei
Kravaten”, interpretada por dois actores do meu elenco: Hans Albers e Rosa
Valetti.
“(...) Quando “miss” Dietrich
entrou no meu escritório, ao fim da tarde, não fez o menor esforço para
despertar o meu interesse. Sentou-se a um canto do divã que se encontrava à
minha frente e baixou os olhos: a apatia feita mulher.
“Vestida com um tailleur de
Inverno, chapéu, luvas e muitas peles, tinha o ar de vir ver-me para gozar de
um descanso bem merecido. Para a fazer sair da sua letargia, perguntei-lhe
porque é que a sua reputação de actriz era tão pouco conhecida. Ela olhou longamente
as mãos enluvadas e, bruscamente, como se as tivesse mostrado muito tempo,
escondeu-as atrás das costas. Decididamente, pensei, iria ser muito difícil
transformar em “devoradora de homens” a mulher acanhada que estava à minha
frente!
“Embebido nos meus pensamentos,
mal me apercebi da entrada de Eric Pommer acompanhado por um Jannings esgotado;
com um a-propósito extraordinário ele pediu a Marlène que tirasse o chapéu e
que desse uma volta pela sala. Era a cerimónia habitual que, embora não
permitisse julgar uma actriz, mostrava-nos se era calva ou aleijada. Ela
obedeceu, passeou para aqui e ali, com um ar de servil obediência, sem olhar
para a frente e dando a impressão que, de um momento para o outro, se iria
desequilibrar e encostar a um móvel. Os seus olhos estavam quase completamente
fechados.
“Os dois peritos trocaram
olhares bastante eloquentes, Pommer agarrava-se à garganta e Jannings coçava a
orelha, e depois deixaram o quarto após dois apertos de mão propositadamente
desnecessários, de significado bem visível. Jannings informou-me depois que os
olhos de uma vaca só se fecham na altura do nascimento de um vitelo. Esta não
foi a única expressão desagradável que teria de ouvir, pois, nessa mesma noite,
muitos dos meus colaboradores, alarmados, precipitaram-se para o teatro para
verificar a minha escolha. E voltaram a dizer-me que não tinham visto naquela
rapariga nada que merecesse ser olhado: disseram, “amigavelmente”, que na
véspera a devia ter visto totalmente “modificada”.
“Depois de o produtor e
Jannings terem pronunciado aquele veredicto mudo, Marlène Dietrich ficou de pé,
braços pendentes. Logicamente, ela não esperava outra coisa, mas olhou
longamente a porta que se fechava atrás deles e depois voltou o seu olhar
triste para mim, como se eu fosse o autor daquela humilhação. Pedi-lhe que se
sentasse de novo e voltei a estudá-la. Sem sombra de dúvida, ela possuía uma
fonte abundante de vitalidade, mas como não sabia o que fazer dela procurava
dissimulá-la. Pensei então que era minha obrigação dizer-lhe o que esperava
dela, o que a despertou apenas o suficiente para me responder numa voz infantil
que pensava que se tratava de um pequeno papel e nunca o de actriz principal.
Tentei acalmá-la, dizendo que ela correspondia perfeitamente à ideia que eu
fazia da minha heroína. Mas, em vez de ficar sossegada, ela saiu por fim da
casca e gritou indignada que era incapaz de brincar, que nunca a tinham
fotografado como queria, que tinha sido sempre desprezada pela imprensa e que
até ali tinha apenas entrado em dois ou três filmes onde estava francamente
mal. Estas palavras surpreenderam-me: era a primeira vez que um actor a quem eu
oferecia um papel me confessava os seus fracassos”.
“O Anjo Azul”, datado de 1930,
marca pois a convergência de duas carreiras, para além de assinalar igualmente
o encontro com um outro actor admirável, esse Emil Jannings a que o cinema
alemão das décadas de 20 e 30 ficou a dever algumas das suas criações mais
notáveis.
“Der Blauen Engel” gira
fundamentalmente em redor de duas figuras (o professor lmmanuel Rath e a
cantora Lola-Lola). Turista chamado à pressa para a Alemanha, Josef von
Sternberg soube assimilar o expressionismo que vincou o cinema germânico da
década de 20, optando, porém, por uma narrativa de forte pendor realista que se
ia encontrar também na trajectória de um cinema de análise do comportamento
psicológico de pequenos agregados humanos (o Kammerspiel). Apesar desta
tendência para reduzir o filme às relações de lmmanuel Rath-Lola-Lola, “O Anjo Azul” vale também pelas
anotações de carácter social que definem uma época e uma sociedade. Sobre esse
fundo esboçado a traços largos mas incisivos, recorta-se uma figura de mulher
obsessiva e sensual. Lola-Lola representa a transgressão intolerável num meio conservador
e puritano. Para casar com ela, lmmanuel Rath terá de abandonar a carreira de
professor, obrigado pelos colegas que o repudiam e pelos alunos que podem,
finalmente, exteriorizar todo o rancor armazenado ao longo de anos de
injustiças e intolerância. Exilado da sua terra, Rath passará a acompanhar a
“troupe”. Os anos passam, as dificuldades avolumam-se e Rath vai percorrendo os
degraus da degradação. Venderá retratos da mulher por entre as mesas de
“cabarets” baratos e acabará por regressar à sua cidade natal, onde, frente a
uma plateia enraivecida, desempenhará o seu último papel de “clown”, enquanto
Lola-Lola o atraiçoa nos bastidores com um malabarista recém-aparecido.
Consciente da sua total agonia, Rath deixa o Anjo Azul e procurará o seu antigo
liceu, em que irá morrer sobre o tampo da secretária onde, anos atrás, ensinara
Hamlet e vira pela primeira vez fotografias “proibidas” de uma cantora de
“cabaret” de nome Lola-Lola.
“O Anjo Azul”, pensado
inicialmente para glória de Jannings, acaba por ser o filme revelação de uma
actriz que cedo se transformaria na mais extraordinária diva da história do
cinema. Obra de um barroquismo desenfreado, serviria também para confirmação de
um outro talento: Sternberg. Ver Marlène num palco miniatura, inundada de anjos
e pombas de papelão, com nuvens de cartolina que lentamente deslizam por fios
manobrados dos bastidores é espectáculo que para sempre perdurará nos olhos de
quem viu “O Anjo Azul”. Retrato inesquecível de uma Marlène de movimentos
nervosos e de poderosa vitalidade que a América (para onde partiu, juntamente
com Sternberg, ambos contratados pela Paramount, pela mão de Zukor) haveria de
decantar, sofisticando e aristocratizando um temperamento naturalmente
impulsivo e generoso. Sobre isso, Marlène disse: “O Anjo Azul” fez-se e
desfez-me. Quando Josef von Sternberg me chamou, a minha ambição era
interpretar a Margarida do Fausto. O papel de uma vulgar cantora de “cabaret”
vexou-me e criou uma imagem errónea de mim. A partir daí fui sempre tratada como
uma cortesã de alto preço, uma mulher fatal. Bem supliquei para me darem outros
papéis, qualquer coisa de mais humano e mais humorístico, mas os produtores
diziam que o que público queria era ver-me somente como a mulher que põe os
homens loucos. Mais tarde, a partir de “Destry Rides Again”, tive enfim
oportunidade de parodiar a imagem que de mim própria fizeram, contra minha
vontade.” A lucidez destas afirmações não lhe permitiu, todavia, distinguir
algo de essencial que fazia de “O Anjo Azul” uma excepção na sua carreira. Será
a sua colega Louise Brooks quem o fará, ao evocar a figura de Lola-Lola. “Os
fiéis admiradores de Marlène continuam a afirmar que a sua metamorfose, de
Dietrich em deusa hollywoodesca sofisticada, foi a grande “chance” da sua vida.
Mas, cada vez que vejo “O Anjo Azul”, choro um pouco (...) Na nova Dietrich,
tão refinada, já não há qualquer vestígio de feliz vulgaridade ou de generosa
impulsividade. Os seus movimentos brutais e dinâmicos atenuaram-se até esse
deambular majestoso que ela ostenta entre duas sessões de poses fotográficas”.
Em 1935, depois de êxitos
clamorosos e algumas incompreensões nessa carreira a duo que ficou marcada por
filmes como “Morocco” (30), “Dishonore” (31), “Changai Express” (32), “Song of
Songs” (33) e “The Scarlet Empress” (34), e depois do fracasso final de “The
Devil is a Woman”, MarIene e Sternberg rompem a sua ligação indo cada um por
seu lado, à procura de um ideal perdido: Sternberg tenta fazer de cada nova
vedeta uma nova MarIene; Dietrich, por seu turno, só muito tardiamente
conseguirá libertar-se do retrato que dela impunham os produtores e que o
público não se cansava de reclamar.
Essa Marlène de olhar
voluptuoso, a meio caminho entre a mítica pureza de uma deusa inacessível e a
diabólica presença inquietante de uma mulher destruidora; essa Marlène
regressada do reino das sombras e das trevas, esse rosto iluminado, que
permanece misterioso para além de toda a descoberta; essa Marlène de tempos
idos, mulher-mito, mito-mulher, continua bem junto de todos nós. Cada reposição
de uma obra sua, na televisão, mas sobretudo nas salas de cinema, é uma
oportunidade nova que, sobretudo, as gerações mais jovens não podem desconhecer
e que os mais velhos recordam com saudade.
In
“O Século Ilustrado” (20 de Dezembro de 1969)
O ANJO AZUL
Título original:
Der Blaue Engel
Realização: Josef von Sternberg (Alemanha, 1930);
Argumento: Carl Zuckmayer, Karl Vollmöller, Robert Liebmann, (Josef von
Sternberg), segundo romance de Heinrich
Mann ("Professor Unrat"); Produção: Erich Pommer; Música: Franz
Waxman; Fotografia (p/b): Günther Rittau; Montagem: Sam Winston; Walter Klee
(versão inglesa); Direcção artística: Otto Hunte; Guarda-roupa: Tihamer Varady;
Maquilhagem: Waldemar Jabs, Oscar Schmidt; Direcção de Produção:Viktor
Eisenbach; Departamento de arte: Emil Hasler; Som: Fritz Thiery; Companhias de
produção: Universum Film (UFA); Intérpretes:
Emil Jannings (Prof. Immanuel Rath), Marlene Dietrich (Lola Lola), Kurt Gerron
(o mágico), Rosa Valetti (a mulher do mágico), Hans Albers (Mazeppa, o homem
forte), Reinhold Bernt (o palhaço), Eduard von Winterstein (o director da
escola), Hans Roth, Rolf Müller, Roland Varno, Carl Balhaus, Robert Klein-Lörk,
Charles Puffy, Wilhelm Diegelmann, Gerhard Bienert, Ilse Fürstenberg, Die Weintraub
Syncopators, Friedrich Hollaender (pianista), Wolfgang Staudte (aluno), etc. Duração: 124 minutos; Distribuição em
Portugal: Edivisa; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em
Portugal: 24 de Março de 1931.
MARLÈNE DIETRICH
Filmografia
Na Alemanha: 1922: No Sind
die Manner (Os Homens são Assim), de G. Jacoby; 1923: Die Tragodia der Liebe (A
Tragédia do Amor), de Joy May; 1924: Der Mensch am Wege (Um Homem à Beira do
Caminho), de William Dieterle; Der Sprung Ins Leben (Salto para a Vida), de Dr.
J. Guter; 1925: Die Freudlose Gasse (Rua sem Sol), de G. W. Pabst; 1926: Eine
Du Darry Von Heute (Uma Dubarry Moderna), de Alexander Korda; Manon Lescaut, de
Arthur Robison; Madame Wunscht Keine (A Senhora Não Quer Crianças), de Alexander
Korda; Kopf Hoch, Charly! (Cabeça para Cima, Charlie!), de Dr. W. Wolff; Der
Juxbaron (O Barão Imaginário), de Dr. W. Wolff; 1927: Seln Grosster Bluff (O
Seu Maior Bluff), de Harry Piel; Wenn ein Welb den Weg Verliet (Quando Uma
Mulher Perde o seu Caminho), de Gustav Ucicky; 1928: Prinzessin Olala
(Princesinha Oh! Lá, Lá!), de Robert Land; 1929: Ich Kusse Ihre Hand, Madame,
de Robert Land; Liebesnacht ou Gefahren der Brautzeit, de Fred Sauer; Die Frau,
Nach der Man Sich Sehnt, de Kurt (Curtia) Bernhardt; Das Schiff der Verlorenen
Menschen, de Maurice Tourneur; 1930: Die Blaue Engel (O Anjo Azul), de Josef
von Sternberg
Nos Estados Unidos da América: 1930: Morocco
(Marrocos), de Josef von Sternberg; 1931: Dishonored (Fatalidade), de Josef von
Sternberg; 1932: Shangai Express (O Expresso de Xangai), de Josef von Sternberg; Blonde Venus (Vénus
Loira), de Josef von Sternberg; 1933: Song of Songs (O Cântico dos Cânticos),
de Robert Mamoulian; 1934: The Scarlet Empress (A Imperatriz Vermelha), de
Josef von Sternberg; 1935: The Devil is a Woman (A Mulher e o Fantoche ou O
Diabo é Uma Mulher), de Josef von Sternberg; 1936: Desire (Desejo), de Frank
Borzage; The Garden of Allah (O Jardim de Allah), de Richard Boleslawki; 1937:
Knight Without Armour (Cavaleiro Sem Armas),
de Jacques Feyder; Angel (Anjo), de Ernest Lubitsch; 1939: Destry Rides
Again (A Cidade Turbulenta), de George
Marshall; 1940: Seven Sinners (Sete Pecadores),
de Tay Garnett; 1941: The Flame of New Orleans (A Condessa de Nova
Orleães), de René Clair; Manpower
(Discórdia), de Raoul Walsh; 1942: The Lady Is Willing (Capricho de
Mulher), de Mitchel Leisen; The Spoilers
(Oiro), de Ray Enríght; Pittsburgh
(Sangue Negro), de Lewis Seíler; 1943:
Stage Door Canteen (Chuva de Estrelas), de Frank Borzage (Marlènesó aparece no
filme anúncio desta obra de propaganda militar); 1944: Follow The Boys (Parada
da Alegria), de Eddie Butherland; 1944:
Kismet (Kismet), de William Dieterle;
Em França: 1946: Martin Roumagnac (Desespero), de Georges Lacombe;
De novo nos Estados Unidos da América: 1947: Golden
Earring (A Cigana Feiticeira), de Mitchel Leisen; 1948: A Foreign Affair (A Sua
Melhor Missão), de Billy Wilder; 1949: Jigsaw (Uma Loira com Dois Corações), de
F. Markle; 1950: Stage Fright (Pânico nos Bastidores), de Alfred Hitchcock;
1951: No Highway in The Sky (Viagem Fantástica), de Henry Koster; 1952: Rancho
Notorious (O Rancho das Paixões), de Fritz Lang; 1956: Around the World in 80
Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias), de Michael Anderson; 1957: The Monte Carlo
Story (A História de Monte Carlo), de Samuel Taylor; 1957: Witness for the
Prosecution (Testemunha de Acusação), de Billy Wilder; 1958: Touch of Evil (A
Sede do Mal), de Orson Welles; 1958: Das Gab’s Nur Einmal (Esperei-o uma Vez),
de G. Von Bolvary; 1962: Judgement at Nuremberg (Julgamento de Nuremberg), de
Stanley Kramer; 1963: Black Fox, de Clyde Stoumen (narração); 1964: Paris When
is Sizzles (Quando Paris Delira), de Richard Quine; 1978: Schöner Gigolo, armer
Gigolo (História de um Gigolo), de David Hemmings.
Para lá da sua
carreira como actriz desenvolve uma extraordinária actividade como cantora, que
se prolonga até bastante mais tarde que a sua despedida dos ecrãs (1978).
Morre, depois de um longo período de quase isolamento, em Paris, a 6 de Maio de
1992, com 90 anos de idade.
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