sábado, 12 de setembro de 2015

1 DE DEZEMBRO DE 2015


MÚSICA NO CORAÇÃO (1965)
(na celebração dos 50 anos da sua estreia mundial, a 2 de Março de 1965)

 Há alguns filmes sobre os quais tenho uma recordação ambígua. Este é um deles. Ao longo da vida fui gostando e desgostando. Gostando de Robert Wise (sempre!), gostando e desgostando de tudo o resto, porque a vida é feita de bons e maus humores. Quando somos mais novos, mais radicais, menos dados à sensatez, “The Sound of Music” pode ser pasto de toda a nossa verrinosa maledicência. Que dizer desta empastelada aventura sentimental da família Trapp? Pois nada melhor do que arrear-lhe em cima. Mesmo um cliente habitual e um fanático do melodrama e do “musical” (no teatro ou no cinema) como eu, nunca viu com muito bons olhos esta lamechice da freira cantante que se apaixona pelo barão viúvo com sete filhos e foge dos nazis a cantar num festival de Salzburgo. Mas a verdade é que vi várias vezes o filme, ou excertos do filme (sobretudo nas vésperas de Natal, num qualquer canal de TV). É que “Música no Coração” tem muito que se lhe diga, tanto a peça como, sobretudo, o filme.
“The Trapp Family Singers” foi a biografia escrita por Maria Augusta Trapp, publicada em 1947, quando a família já tinha terminado a sua carreira como cantores, contando as mirabolantes peripécias de uma preceptora de criancinhas que interrompe o seu estágio para freira para descobrir a verdadeira “vida” na casa dos Trapp, com todo o seu caudal de promessas de felicidade e ameaças de tragédia. Com base nesta autobiografia, surgiu na RFA, em 1956, um filme, “Die Trapp-Familie” (ou “The Trapp Family”), assinado por Lee Kresel e Wolfgang Liebeneiner, com argumento de George Hurdalek e Herbert Reinecker, que parece estar na origem do interesse dos produtores norte-americanos. Entre os intérpretes, contava-se a memorável Ruth Leuwerik (no papel de Maria), ao lado de Hans Holt (Barão von Trapp), Maria Holst, Josef Meinrad, Friedrich Domin, Hilde von Stolz, Agnes Windeck, Gretl Theimer, etc. Na estreia, a baronesa Von Trapp, sobrevivente ainda da gesta coral da família, teve uma deixa memorável: “Nada é verdadeiro, mas é tudo maravilhoso!” A música era de Franz Grothe, e a premissa do filme enquadrava-se bem no espírito da reconstrução alemão, “para todos os problemas, há uma solução”.
O realizador Wolfgang Liebeneiner era um homem experimentado neste tipo de obras, e teve um sucesso inequívoco. Há no argumento desta obra um final que deixa supor que a família Trapp fugiu da Alemanha nazi directamente para os EUA, o que não aconteceu na realidade, pois ficaram na Europa e só em 1939 iniciaram a tournée pelos Estados Unidos. Essa estadia daria origem a uma continuação, “Die Trapp-Familie in Amerika” (“The Trapp Family in America”) (1958), desta feita dirigida unicamente por Wolfgang Liebeneiner. Ruth Leuwerik regressaria no papel da Baronesa von Trapp, e Hans Holt, no de Barão von Trapp.
Foram estes filmes, e a biografia escrita, que inspiraram Oscar Hammerstein II a escrever as líricas e Richard Rodgers a compor a música para um guião de Howard Lindsay e Russell Crouse, que subiu a cena no Lunt-Fontanne Theatre (Nova Iorque), em 16 de Novembro de 1959, para iniciar uma carreira épica na história do musical norte-americano. Mary Martin e Theodore Bikel eram os protagonistas inspirados que “conquistaram os corações” de todos os espectadores na noite da estreia, com excepções de alguns críticos que colocaram ressalvas a este espectáculo. Mas, neste caso, os críticos escreveram e a caravana passou incólume. O sucesso estava na rua. Nada o detinha.


“Música no Coração” transformou-se daí em diante, seguramente, num dos mais célebres e rentáveis espectáculos de toda a história do teatro e do cinema musicais. O seu êxito triunfal em (quase) todas as temporadas teatrais e o seu apoteótico sucesso nas salas de cinema, aquando da estreia do filme assinado por Robert Wise, que esteve em Lisboa (quem não recorda?), quase dois anos consecutivos no Tivoli, com sessões esgotadas e espectadores que repetiam a sua visão vezes sem conta, não termina de surpreender tudo e todos. Ninguém se furtou, depois, por exemplo, ao fascínio de um novo lançamento em DVD (com dezenas e dezenas de extras, a explicar como foi o que foi), e ninguém pode negar a genialidade de Robert Wise a conduzir este filme, muito embora alguns possam não suportar o tom algo lamechas e o peso de um argumento que, não sendo convencional, acaba por não se furtar a todos os rodriguinhos do melodrama musical.
Acontece que gosto de melodramas (ah, o Douglas Sirk!) e adoro musicais. Logo, por que não gostar deste “dois em um” que, para mais, tem uma soberba partitura musical? Revisto agora o filme, o que sobressai é realmente a portentosa realização de um mestre, Robert Wise. A sua relação com os cenários, a forma como enquadra, como movimenta a câmara, como dirige os actores, como se serve da sumptuosa paisagem, como estabelece a relação entre as personagens no interior de um mesmo plano (como realiza a “mise-en-scène”, em suma) é realmente brilhante. Depois, a história por vezes arrasta-se nalguns convencionalismos escusados. Mas a verdade é que o filme sobrevive, e sobrevive bem. 50 anos depois, as manifestações mundiais a assinalar a efeméride dão conta desta sobrevivência.
Fui remexer em papéis antigos e descobri uma nota minha, no DN, sobre uma reposição do filme, em Julho de 1977. Não se esqueçam da data e atentem no que escrevi: “Falando do filme, o melhor será passar por cima das aventuras e desventuras da família Trapp (que todos conhecem), para reconhecer a maestria extrema deste produto de uma cinematografia virada essencialmente para o “divertimento para toda a família.” Veiculando uma filosofia da vida de base “pequeno-burguesa”, jogando com os sentimentos e as emoções a seu belo prazer, “The Sound of Music” é, por outro lado, uma verdadeira lição de técnica e de “métier”. Por alguma razão Mao Tse Tung, quando quis que os chineses aprendessem cinema, lhes comprou, entre outras cópias (poucas), uma deste “manual”.


Ora bem: com uma ou outra alteração terminológica, mantenho o que então disse, acrescentando que, trinta anos depois, os chineses demonstraram ter aprendido, e muito bem, a fazer cinema. Robert Wise foi um dos grandes cineastas de Hollywood, um homem que começou a carreira ao lado de Orson Welles (colaborador essencial em “Citizen Kane”) e construiu depois uma filmografia invejável. Sou um seu fã incondicional. Há uns anos, num festival de cinema em Óbidos, ele foi o presidente de um Júri de que eu também fazia parte. Infelizmente adoeci e não pude estar presente nos trabalhos do festival, mas fui a Óbidos conhecê-lo, com o termómetro nos 38, só para ter o prazer de o olhar nos olhos. Afinal ele assinou uma dezena de obras-primas, desde “O Túmulo Vazio” (1945), até “West Side Story” (1961), passando por “Nascido para Matar”, “Nobreza de Campeão”, “O Dia em que a Terra Parou”, “Marcado pelo Ódio”, “Quero Viver”, “Homens no Escuro”, não contando com os ameaços.
Uma informação final: outro filme surgiu na continuação de “Música no Coração”. Foi “Celebrate the Sound of Music”, de 2005, uma realização de John L. Spencer, para televisão, e, tal como o próprio título sugere, trata-se de uma homenagem ao filme, com participação de cantores e personalidades que evocam a obra. Graham Norton era o apresentador, e apareciam vozes de Big Brovaz, Clare Buckfield, Fearne Cotton, Rosemarie Ford, Lesley Garrett, Carrie Grant, Jill Halfpenny, Gloria Hunniford, Bonnie Langford, Jon Lee, Robert Lindsay, Richard McCourt, Linda Robson, Denise Van Outen, entre outras.
Entretanto, surgiu a versão teatral portuguesa de “Música no Coração”, com a assinatura de Filipe La Féria, e com um elenco prestigiado, à frente do qual Lúcia Moniz e Anabela alternam no papel de “A Noviça Rebelde” (título do filme no Brasil). Com a partitura de Oscar Hammerstein II e Richard Rodgers, que contém só “hits” inesquecíveis, o seu bom gosto, o seu sentido do espectáculo, o seu ritmo e a sua direcção de actores desta minha embaraçosa ambiguidade ressaltaram as virtudes e atenuarem-se os lamentos. Esta montagem portuguesa de “Música no Coração” foi verdadeiramente surpreendente e um enorme passo em frente na história do musical em Portugal, mas mais ainda, na história do teatro em Portugal.


MÚSICA NO CORAÇÃO
Título original: The Sound of Music
Realização: Robert Wise (EUA, 1965); Argumento: Ernest Lehman, segundo Howard Lindsay e Russel Crouse (argumento do musical teatral), a partir de Maria von Trapp ("The Story of the Trapp Family Singers"); Produção: Saul Chaplin, Robert Wise, Peter Levathes; Richard D. Zanuck; Música original: Irwin Kostal; Fotografia (cor): Ted D. McCord; Montagem: William Reynolds; Casting: Lee Wallace; Design de produção: Boris Leven; Decoração: Ruby R. Levitt, Walter M. Scott; Guarda-roupa: Dorothy Jeakins; Maquilhagem: Margaret Donovan, Ben Nye, Willard Buell, Ray Forman; Direcção de produção: Saul Wurtzel; Assistentes de realização: Ridgeway Callow, Richard Lang, Maurice Zuberano; Departamento de arte: Glenn 'Skippy' Delfino, Leon Harris, Ed Jones; Som: James Corcoran, Bernard Freericks, Fred Hynes, Murray Spivack; Efeitos especiais: L.B. Abbott, Emil Kosa Jr.; Companhias de produção: Robert Wise Productions (A Robert Wise Production of Rodger and Hammerstein's), Argyle Enterprises; Intérpretes: Julie Andrews (Maria), Christopher Plummer (Capitão Von Trapp), Eleanor Parker (a baronesa), Richard Haydn (Max Detweiler), Peggy Wood (Madre superior), Charmian Carr (Liesl), Heather Menzies-Urich (Louisa), Nicholas Hammond (Friedrich), Duane Chase (Kurt), Angela Cartwright (Brigitta), Debbie Turner (Marta), Kym Karath (Gretl), Anna Lee, Portia Nelson, Ben Wright, Daniel Truhitte, Norma Varden, Gilchrist Stuart, Marni Nixon, Evadne Baker, Doris Lloyd, Gertrude Astor, Alan Callow, Sam Harris, Jeffrey Sayre, etc. Duração: 174 minutos; Classificação etária: M/ 6 anos; Distribuição em Portugal (DVD e BluRay): Twentieth Century Fox / Pris Audiovisuais; Data de estreia em Portugal: 10 de Janeiro de 1966. 


JULIE ANDREWS (1935 - )
Julia Elizabeth Wells nasceu a 1 de Outubro de 1935, em Walton-on-Thames, Surrey, em Inglaterra. O pai, Edward Charles "Ted" Wells, era professor de trabalhos manuais, e a mãe, Barbara Ward Wells, pianista. Com dois anos de idade, começou a estudar dança com uma tia, Joan. Aos quatro anos, os pais divorciaram-se, ela ficou com a mãe e o padrasto, Ted Andrews, um cantor e artista de vaudeville, a quem foi buscar o seu novo nome. Ted Andrews descobriu que ela possuía uma bela voz que, devidamente trabalhada, iria torná-la famosa em toda Inglaterra. Teve então aulas de canto com Madame Lilian Stiles-Allen. Muito jovem ainda, estreou-se nos teatros do West End, em Londres, na década de 40, viajando depois para os EUA, lançando-se na Broadway em 1954 com o musical "The Boyfriend". Depois de passar pela televisão e de se estrear no cinema, Julie Andrews tornou-se a única actriz a ter vencido um Oscar num filme de Walt Disney, no musical “Mary Poppins” (1964), que lhe abriu as portas do sucesso. Mas, no ano seguinte, “Musica n Coração”, um dos maiores êxitos de bilheteira de todos os tempos, catapulta-a para a glória. Rende-lhe várias nomeações para Oscars, Globos e outros prémios, e cimenta a sua reputação como actriz, cantora, bailarina, diretora teatral e escritora.
Casada com Tony Walton (1959-1967) e, posteriormente, com o realizador Blake Edwards (1969-2010), com quem trabalhou imenso, em vários filmes: “Darling Lili”, “The Tamarind Seed”, “The Pink Panther Strikes Again”, “Ten”, “S.O.B.”, “Victor Victoria”, “Trail of the Pink Panther”,  “The Man who Loved Women” ou “That's Life!”. Mas Julie Andrews participou ainda noutros filmes particularmente interessantes: “The Americanization of Emily", "Hawaii", "Torn Curtain", “Thoroughly Modern Millie" ou "Star!".
Sobre “Mary Poppins” e “My Fair Lady” há uma história curiosa a relembrar. Quem interpretou “My Fair Lady” no teatro foi Julie Andrews. Quando a Warner projectou a adaptação a cinema, escolheu Audrey Hepburn para protagonista. Esta, inicialmente, recusou, dizendo que teria de ser Julie Andrews a repetir no cinema o seu trabalho no teatro. Mas Jack Warner não aceitou a sugestão e contra-atacou: ou Audrey Hepburn aceitava, ou seria Elizabeth Taylor a ficar com o papel. Na sessão de entrega dos Oscars, estavam as duas nomeadas, e seria Julie a receber a estatueta. Ganharia também o Globo de Ouro para Melhor Actriz em filme musical, e, ao receber este prémio, Julie Andrews “vingou-se” com muito estilo. Agradeceu a Jack Warner, “pois graças a ele ter-lhe recusado o papel principal em “My Fair Lady”, ela pode aceitar interpretar “Mary Poppins”, e assim receber aquele prémio”.
Julie Andrews foi homenageada pela Rainha Elizabeth II com a Ordem do Império Britânico em 31 de dezembro de 1999, além de também ter sido eleita, em 2002, uma das 100 maiores personalidades britânicas de todos os tempos, ocupando a 59ª posição. Além de um Oscar para melhor actriz, conquistou cinco Globos de Ouro, três Grammys e dois Emmys, entre muitos outros prémios.
Em 1997, após uma cirurgia à garganta, viu afectadas as suas cordas vocais, o que a deixou profundamente deprimida, e a fez recorrer a um acompanhamento psicológico. Interrompeu a carreira, mas voltaria depois, sobretudo ao teatro. No cinema passou sobretudo a emprestar a sua voz a personagens de filmes de animação. Andrews também escreve livros infantis, e em 2008 publicou uma autobiografia intitulada "Home: A Memoir of My Early Years".
Pela sua contribuição à indústria cinematográfica, Andrews possui uma estrela no Wall of Fame, em Hollywood Boulevard, junto ao nº 6901. Na cerimónia dos Osacres de 2015 recebeu um tributo que lhe foi entregue por Lady Gaga que interpretou um conjunto de temas de “The Sound of Music”.


Filmografia

Como actriz: 1949: La rosa di Bagdad, de Anton Gino Domenighini (voz); 1953: Television Christmas Party (TV); 1956: Ford Star Jubilee (TV); 1957: Cinderella (TV); 1959: The Gentle Flame (TV); 1964: The Americanization of Emily (Herói Precisa-se), de Arthur Hiller; Mary Poppins (Mary Poppins), de Robert Stevenson; 1965: The Sound of Music (Música no Coração), de Robert Wise; 1966: Hawaii (Hawaii), de George Roy Hill; 1966: Torn Curtain (Cortina Rasgada), de Alfred Hitchcock; 1967: Thoroughly Modern Millie (Millie, Rapariga Moderna), de George Roy Hill; 1968: Star! (A Estrela!), de Robert Wise; 1970: Darling Lili (Querida Lili), de Blake Edwards; 1974: The Tamarind Seed (A Semente de Tamarindo), de Blake Edwards; 1976 A Pantera volta a atacar (The Pink Panther Strikes Again), de Blake Edwards (voz, não creditada); 1979: Ten (10 - Uma Mulher de Sonho) de Blake Edwards; 1980: Little Miss Marker (Jogar para Ganhar), de Walter Bernstein; 1981: S.O.B. (Tudo Boa Gente), de Blake Edwards; 1982: Victor Victoria (Victor/Victoria), de Blake Edwards; Trail of the Pink Panther (Na Pista da Pantera), de Blake Edwards (voz, não creditada); 1983: The Man who Loved Women (Os meus Problemas com as Mulheres), de Blake Edwards; 1986: Duet for One (Dueto só para um), de Andreï Kontchalovski; 1986: That's Life! (A Vida É Assim), de Blake Edwards; 1991: Our Sons (Os Filhos da Sida), de de John Erman (TV); 1992: Julie (TV); Cin cin ou A Fine Romance, de Gene Saks; 1995: Victor/Victoria (TV); One Special Night (TV); 2000: Relative Values, de Eric Styles; 2001: The Princess Diaries (O Diário da Princesa), de Garry Marshall; On Golden Pond (TV); 2002: Paraíso Filmes (TV); 2003: Unconditional Love (Quem Matou o Nosso Amante?) de P. J. Hogan; Eloise at Christmastime (TV); Eloise at the Plaza (TV); 2004: Shrek 2 (Shrek 2), de Andrew Adamson (voz); The Princess Diaries 2: Royal Engagement (O Diário da Princesa: Noivado Real) de Garry Marshall; The Cat That Looked at a King (Vídeo); Great Performances (TV) Cinderella; 2007: Shrek 3 (Shrek o Terceiro), de Chris Miller (voz); Enchanted (Uma História de Encantar) de Kevin Lima (narradora); 2010: Shrek Forever After (Shrek Para Sempre) de Mike Mitchell (voz); Despicable Me (Gru - O Maldisposto) de Chris Renaud e Pierre Coffin (voz); Tooth Fairy (A Fada dos Dentes) de Michael Lembeck;

24 DE NOVEMBRO DE 2015


DISPOSTA A TUDO (1995)

“To Die For” tem por base um argumento de Buck Henry que se baseia numa obra homónima de Joyce Maynard que, por sua vez, parte de um caso verídico. A história real é a de Pamela Smart, uma jovem nascida em 1967, em Coral Gables, na Florida, que, em 1989, casou, em New Hampshire, com Greggory Smart, enlace que durou um ano, até que, em 1990, o marido foi encontrado morto em casa, enquanto a mulher se encontrava ausente. Pamela trabalhava numa radio local, a WVFS, onde tinha um programa dedicadio à sua paixão, o heavy metal, e que se chamava obviamente, “Metal Madness", ou "Maiden of Metal". Além disso trabalhava num documentário, "Project Self-Esteem", sobre os alunos de uma escola local, a Winnacunnet High School, em Hampton, New Hampshire, o que a levou a travar conhecimento com um adolescente de 15 anos, William "Billy" Flynn, e outros jovens de quem se dizia amiga. De "Billy" Flynn tornou-se amante e, ao que se sabe através das investigações policiais e do julgamento seguinte, ela terá aliciado o jovem amante, com a colaboração de dois ou três amigos, a matar o marido, numa noite em que ela estivesse ausente de casa em trabalho, para assim possuir um bom alibi. O que aconteceu a 1 de Maio de 1990, em Derry, New Hampshire. O trabalho da polícia conduziu a revelações que a implicavam como o cérebro do crime. Um dia, um dos detectives, Daniel Pelletier, foi ao seu encontro e disse-lhe: “Tenho uma boa e uma má notícia para si. A boa é que descobrimos quem matou o seu marido. A má é que está presa por esse crime”. Nesta altura, com 49 anos, cumpre prisão perpétua na prisão de segurança máxima de Bedford Hills Correctional Facility for Women, em Westchester County, Nova Iorque. O julgamento deste caso, muito mediático por natureza, foi o primeiro transmitido em directo pela televisão. Pamela Smart, por portas travessas, conseguia o desiderato da sua vida: ser uma estrela de televisão, atingir a fama. Mas por que preço?
O caso entrou para a história da cultura pop norte-americana, muito curiosa quanto a assassinatos e criminosos. Foi tema de um episódio da serie “Law & Order” ("Renunciation"), e de outra do Discovery Channel, “Scorned: Love Kills”. A cadeia HBO lançou um documentário, “Captivated: The Trials of Pamela Smart”, realizado por Jeremiah Zagar. Uma outra série de crime, “American Justice” não esqueceu o drama: "Crime of Passion: The Pamela Smart Story." Dean J. Smart, irmão da vítima Gregg Smart, foi entrevistado em “Skylights and Screendoors” e a própria Pamela Smart apareceu no programa de Oprah, onde reclamou da sua inocência. A televisão dedicou-lhe igualmente um teledramático, “Murder in New Hampshire: The Pamela Wojas Smart Story”, com Helen Hunt no papel de Pamela. Joyce Maynard efabulou sobre o caso no livro “To Die For”, obra adaptada por Gus Van Sant em 1995. Pamela teve, e continua a ter os seus momentos de fama.


“Disposta a Tudo” não é completamente fiel ao caso de Pamela Smart, mas procura reter o essencial. A história fala de Suzanne Stone, de Little Hope, New Hampshire, jovem empreendedora que sonha com ser vedeta de televisão. “Eu sempre soube quem era e o que queria ser”, afirma. Bonita, escultural (ou não fosse Nicole Kidman a interpretar o papel), extrovertida, menina dos olhos de seus pais, com alguma formação em comunicação e um grande à vontade, está “disposta a tudo” para conseguir o que quer. Casa com Larry Maretto, que dizem ser de uma família da Mafia, e aparece na televisão local, a WNEN, em busca de um lugar. Os predicados físicos e a insistência dão-lhe um lugar de apresentadora da metereologia. Para ela “ tudo faz parte de um período de aprendizagem. Mas às vezes não damos por isso. É como estar a ver televisão muito perto, só vemos partículas. Temos de nos afastar para termos a imagem global”. Depois procura subir cada vez mais na vida que escolheu. Um documentário sobre os jovens e a droga é o projecto seguinte, o que a leva a confraternizar com Jimmy Emmett e o seu grupo de jovens mais ou menos marginalizados. Ela acha que “frente à camara é onde gosta de estar”. Aliás, pensa como muito boa gente. “Não se é ninguém se não se aparecer na televisão!”, e sabe que “nunca se deve dizer não”, com tudo o que isso pressupõe. Torna-se amante de Jimmy Emmett e idealiza uma maneira de matar o marido. Serve-se do sexo como chantagem. Na sua vida vale tudo para atingir os fins. Matar é apenas mais uma étapa. O sucesso a qualquer preço. É o sonho americano (que hoje se estendeu a quase todo o mundo): “Tenho uma boa e uma má notícia para si. A boa é que descobrimos quem matou o seu marido. A má é que está presa por esse crime”.
O filme de Gus Van Sant opta por uma construção narrativa em forma de puzzle, iniciando-se com um grande plano de Nicole Kidman, na figura de Pamela Smart, dirigindo-se aos espectadores, falando de si. De seguida, a obra assume a construção de um (falso) documentário, procurando saber quem era aquela jovem, o que ela queria da vida, o que fez para o conseguir.
Gus Van Sant, que gosta de analisar o sonho americano (“No Trilho da Droga”, “A Caminho de Idaho”, “O Bom Rebelde”, “Psico”, “Descobrir Forrester”, “Gerry”, “Elefante”, “Last Days - Últimos Dias”, “Paranoid Park”, “Milk” ou “Terra Prometida”, entre outros) e se tornou notado como um cineasta pouco ligado às grandes produtoras, assumindo-se como um independente, assina aqui uma obra nervosa, irrequieta, procurando agarrar na personagem de Pamela Smart como o símbolo de uma juventude alienada por falsos valores e por um empreendorismo que pode ser fatal. Consegue realmente um filme inquietante, excelentemente interpretado por uma Nicole Kidman brilhante, numa criação que lhe valeu um Globo de Ouro e uma nomeação para um BAFTA. Magnífica é ainda a prestação de Joaquin Phoenix, Casey Affleck ou Illeana Douglas. Note-se que em “Disposta a Tudo” aparecem ainda em curtos papéis, George Segal (um apresentador de TV), David Cronenberg (um executante da Mafia), o próprio Joyce Maynard (um advogado), ou o argumentista Buck Henry (Mr. H. Finlaysson). Não esquecer a partitura musical de Danny Elfman.

DISPOSTA A TUDO
Título original: To Die For
Realização: Gus Van Sant (EUA, Inglaterra, 1995); Argumento: Buck Henry, segundo obra de Joyce Maynard; Produção: Joseph M. Caracciolo, Sandy Isaac, Leslie Morgan, Jonathan T. Taplin, Laura Ziskin; Música: Danny Elfman; Fotografia (cor): Eric Alan Edwards; Casting: Deirdre Bowen, Howard Feuer; Design de produção: Missy; Direcção artística: Vlasta Svoboda; Decoração: Carol Lavoie; Guarda-roupa: Beatrix Aruna Pasztor; Maquilhagem: David R. Beecroft, Patricia Green, Barbara; Direcção de Produção: Steve Wakefield; Assistentes de realização: Roman Alexander Buchok, Tom Quinn, Michele Rakich, David J. Webb; Departamento de arte: Karen M. Clark, Ken Clark, Rossana DeCampo, Willi Holst, Henry Ilola; Som: Kelley Baker, Denis Bellingham, Robert Fernandez, J. Paul Huntsman, Bill Jackson, Owen Langevin, Philip Rogers, Jim Thompson; Efeitos especiais: Laird McMurray, Tim Good; Companhias de produção:Columbia Pictures Corporation, The Rank Organisation; Intérpretes: Nicole Kidman (Suzanne Stone Maretto), Matt Dillon (Larry Maretto), Joaquin Phoenix (Jimmy Emmett), Casey Affleck (Russel Hines), Illeana Douglas (Janice Maretto), Alison Folland (Lydia Mertz), Dan Hedaya (Joe Maretto), Wayne Knight (Ed Grant), Kurtwood Smith (Earl Stone), Holland Taylor (Carol Stone), Susan Traylor (Faye Stone), Maria Tucci (Angela Maretto), Tim Hopper (Mike Warden), Michael Rispoli (Ben DeLuca), Buck Henry (Mr. H. Finlaysson), Gerry Quigley, Tom Forrester, Alan Edward Lewis, Nadine MacKinnon, Conrad Coates, Ron Gabriel, Ian Heath, Graeme Millington, Sean Ryan, Nicholas Pasco, Joyce Maynard, David Collins, Eve Crawford, Janet Lo, David Cronenberg, Tom Quinn, Peter Glen, Amber-Lee Campbell, Colleen Williams, Simon Richards, Philip Williams, Susan Backs, Kyra Harper, Adam Roth, Andrew Scott, Tamara Gorski, Katie Griffin, Carla Renee, Melissa Cooper, Tom Peterson, Chris Phillips, Rain Phoenix, George Segal, Isabella Simone, etc. Duração: 106 minutos; Distribuição em Portugal: New Age (DVD); Classificação etária: M/ 16 anos; Data de estreia em Portugal: 10 de Novembro de 1995.


NICOLE KIDMAN (1967 - )
Nicole Mary Kidman nasceu a 20 de Junho de 1967, em Honolulu, Havai, tendo dupla nacionalidade: inicialmente australiana, depois também norte-americana. Os primeiros anos de vida são muito viajados. Nasce pois no Havai, onde a família morava e onde lhe chamavam Hokulani, um nome que significa “estrela celestial”. Filha de australianos, Janelle Ann, enfermeira, e Antony David Kidman, psicólogo e bioquímico, mudou-se pouco depois com os pais para Washington, mas, quando Nicole tinha apenas três anos, viajaram todos para Sydney, onde ela cresceu e começou a trabalhar como actriz nos anos de 80. A sua propensão inicial era a dança, mas rapidamente se deixou apaixonar pela representação. Cedo aparecia em festas de escola, onde interpretava diversos papéis. Passou pelo Philip Street Theater, onde foi acarinhada por Jane Campion, então estudante, e estreia-se no cinema em filmes como “Memórias de um Natal” ou Bandidos das BMX (ambos de 1983) e na televisão em séries como “Skin Deep” ou “Chase Through the Night”. Mas a sua primeira aparição na tela foi aos 15 anos, num vídeo musical de Pat Wilson para a música "Bop Girl". Tudo, portanto, na Austrália, onde se tornaria particularmente notada na série televisiva “Vietnam” (1987) e no thriller “Calma de Morte” (1989). A mudança para os EUA e para Hollywood marca um momento decisivo na sua carreira, facilmente verificável em obras que a tornam uma actriz de primeira grandeza, internacionalmente: “Days of Thunder”, “To Die For”, “Malice”, “The Peacemaker”, “Eyes Wide Shut”, “Moulin Rouge” ou “The Others”, “Cold Mountain”, “The Interpreter”, “Austrália” ou “The Hours”, no qual, no papel de Virginia Woolf, arrebata o Oscar de Melhor Actriz em 2003. Casada primeiramente com Tom Cruise (1990 - 2001) e depois com o cantor e compositor Keith Urban (2006 -), Kidman foi homenageada com uma estrela no Wall of Fame de Hollywood, perto do nº 6801 de Hollywood Boulevard. O seu palmarés de prémios é longo. Para lá do Oscar, conta ainda com três Globos de Ouro (The Hours, To Die For ou Moulin Rouge!), um BAFTA (The Hours), um prémio de Melhor Actriz no Festival de Berlim (The Hours) e ainda galardões diversos concedidos pelo American Film Institute, Satellite Awa, Prémio Saturno (The Others), etc.


Filmografia      
Como actriz: 1983: Skin Deep (TV); Chase Through the Night (TV); 1983: Bush Christmas (Memórias dum Natal), de Henri Safran; BMX Bandits (Os Bandidos das BMX), de Brian Trenchard-Smith; 1984: Matthew and Son (TV); A Country Practice (TV); 1985: Wills & Burke, de Bob Weis; Archer’s Adventure (TV); Five Mile Creek (TV); Winners (TV); 1986: Windrider (A Loucura do Surf), de Vincent Monton; 1987: Un’ Australiana a Roma (TV); Room to Move (TV); Vietnam (TV); Watch the Shadows Dance (A Dança das Sombras), de Mark Joffe; 1987: The Bit Part (Papel Secundário), de Brendan Maher; 1987: Room to Move, de John Duigan; 1988: Emerald City (Cidade Esmeralda), de Michael Jenkins; 1989: Dead Calm (Calma de Morte), de Phillip Noyce; Bangkok Hilton (Regresso a Banguecoque) (TV); 1990: Days of Thunder (Dias de Tempestade), de Tony Scott; 1991: Flirting (A Idade das Emoções), de John Duigan; Billy Bathgate, de Robert Benton; 1992: Far and Away (Horizonte Longínquo), de Ron Howard; 1993: Malice (Má Fé), de Harold Becker; My Life (Uma Vida), de Bruce Joel Rubin; 1995: Batman Forever (Batman para Sempre), de Joel Schumacher; To Die For (Disposta a Tudo), de Gus Van Sant; 1996: The Leading Man (O Protagonista), de John Duigan; The Portrait of a Lady (Retrato de Uma Senhora), de Jane Campion; 1997: The Peacemaker (O Pacificador), de Mimi Leder; 1998: Stevie Nicks & Sheryl Crow: If You Ever Did Believe (curta-metragem); Practical Magic (Magia e Sedução), de Griffin Dunne;1999: Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), de Stanley Kubrick; 2001: Birthday Girl (Da Rússia com Amor), de Jez Butterworth; 2001: The Others (Os Outros), de Alejandro Amenábar; 2001: Moulin Rouge! (Moulin Rouge!), de Baz Luhrmann; 2002: The Hours (As Horas), de Stephen Daldry; Panic Room (Sala de Pânico), de David Fincher; 2003: Dogville (Dogville), de Lars von Trier; The Human Stain (Culpa Humana), de Robert Benton; Cold Mountain (Cold Mountain), de Anthony Minghella; 2004: Birth (Birth - O Mistério), de Jonathan Glazer; The Stepford Wive (Mulheres Perfeitas), de Frank Oz; Chanel N°5: The Film (curta-metragem); 2005: Bewitched (Casei com uma Feiticeira), de Nora Ephron; Interpreter (A Intérprete), de Sydney Pollack; 2006: Happy Feet (Happy Feet), de George Miller (voz); 2006: An Fur: Imaginary Portrait of Diane Arbus (Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus), de Steven Shainberg; Bienvenido a casa, de David Trueba; 2007: Margot at the Wedding (Margot e o Casamento), de Noah Baumbach; The Golden Compass (A Bússola Dourada), de Chris Weitz; The Invasion (A Invasão), de Oliver Hirschbiegel; 2008: Australia (Austrália), de Baz Luhrmann; 2009: Nine (Nove), de Rob Marshall; 2010: Rabbit Hole (O Outro Lado do Coração), de John Cameron Mitchell; 2011: Just Go with It (Engana-me Que Eu Gosto), de Dennis Dugan; Trespass (Transgressão), de Joel Schumacher; 2012: Hemingway & Gellhorn, de Philip Kaufman; The Paperboy (The Paperboy - Um Rapaz do Sul), de Lee Daniels; 2013: Stoker, de Park Chan-wook; The Railway Man (The Railway Man - Uma Longa Viagem), de Jonathan Teplitzky; 2014: Before I Go to Sleep (Antes de Adormecer), de Rowan Joffe; Grace of Monaco (Grace de Mónaco), de Olivier Dahan; Paddington (Paddington), de Paul King; Queen of the Desert, de Werner Herzog; Hello Ladies: The Movie, de Stephen Merchant (TV); 2015: Strangerland (Em Terra Estranha), de Kim Farrant; Genius, de Michael Grandage; The Family Fang, de Jason Bateman; Secret in Their Eyes (O Segredo dos Seus Olhos), de Billy Ray; 2016 Lion, de Garth Davis (em preparação); Big Little Lies (TV) (em preparação); How to Talk to Girls at Parties, de John Cameron Mitchell (em preparação).  

17 DE NOVEMBRO DE 2015


INSTINTO FATAL (1992)

“Basic Instinct” é um thriller onde abunda o sexo e a violência, de construção inteligente, dirigido com segurança e eficácia narrativa pelo holandês Paul Verhoeven, realizador reconhecido ainda na Holanda, por “Delícias Turcas” (1973) e depois, já nos EUA, por “Robocop” (1987), “Total Recall” (1990) ou “Showgirls” (1995), tendo regressado à terra natal para rodar o excelente “Livro Negro” (2006). Partindo de um argumento de Joe Eszterhas (autor deMusic Box” ou “Jagged Edge”, entre outros), “Instinto Fatal” tem tudo para ser um bom policial, tecnicamente impecável e muito bem interpretado. Mas ficará na história do cinema por uma razão bem diferente: nele, a protagonista descruza despudoramente as pernas, durante uma sessão de interrogatório policial, revelando não possuir por baixo qualquer tipo de roupa interior. A protagonista é Sharon Stone, que é uma excelente actriz e que, depois desta sua ousadia, se tornaria num dos símbolos sexuais do cinema norte-americano do final do século XX. Sharon Stone afirmou que, “pelo menos, comprovei que era loura natural”, mas a sua sorte mudou muito. Para rodar “Instinto Fatal”, em 1992, ganhou 500.000 dólares. Depois, para rodar a continuação, “Instinto Fatal 2”, em 2006, cobraria 13.600.000 dólares. Pode dizer-se que foi um deslumbrante descruzar de pernas com repercursões que foram muito além da intriga do filme em questão.
Falemos então de “Instinto Fatal”, que começa com um assassinato muito perturbante e particularmente sádico: Johnny Boz, antiga vedeta de rock, proprietário de um clube noturno em São Francisco, é encontrado morto na sua cama em circunstâncias que não deixam indiferentes nem os mais calejados polícias: várias vezes perfurado por um picador de gelo. A namorada de Johnny é a principal suspeita. Catherine Tramell (Sharon Stone), escultural e atraente escritora de romances policiais que partem sempre da realidade vivida pela autora, não perde a compostura e desafia os investigadores. O caso é entregue ao detective Nick Curran (Michael Douglas), com alcoolismo e drogas no seu passado, vícios a que procura furtar-se. Beth Gardner (Jeanne Tripplehorn), uma psiquiatra da polícia, que em tempos fora namorada de Nick, descobre que o crime que vitimou Boz foi directamente decalcado de um dos romances de Catherine. Nick não consegue escapar ao fascínio de Catherine, sendo atraído por ela, como uma borboleta pela luz (ou o fogo). Um dos aspectos mais interessantes desta intriga é precisamente o jogo de espelhos que se estabelece entre o detective e a suspeita, ambos demasiado iguais para não se compreenderem mutuamente. Um e outra têm as mesmas propensões, são habitados pelos mesmos fantasmas, consumidos pelas mesmas obsessões e fantasias. Catherine afirma a certa altura que Nick Curran será a personagem inspiradora do novo romance que anda a escrever. E o mistério adensa-se, e o perigo espreita, o suspense é irrespirável. Os cartazes da estreia eram claros: "Flesh seduces. Passion kills" ou "A brutal murder, a brilliant killer, a cop who can't resist the danger". Na verdade, nem o polícia resiste ao perigo, nem o perigo se deixa intimidar pela presença da autoridade.


Poderá acusar-se o filme de roçar o soft-porn, de ser excessivo nalguns aspectos, polémico em demasia, o que se consubstanciou rapidamente nas cruzadas lançadas por ligas de decência e movimentos feministas e gays, que logo se manifestaram. Mas a verdade é que visto hoje em dia “Instinto Fatal” mantém um forte impacto deixando cair toda essa ganga polémica que o agitou na altura da estreia. Continua violento e sexy, mas o contexto suavizou-se, e o que ressalta é a qualidade narrativa, eficaz e vigorosa, a ambiência que rodeia as personagens, numa cidade de São Francisco muito bem fotografada, a notória influência de Hitchcock, sobretudo no esboço da protagonista, que alguns aproximam da mulher fatal de “Vertigo”, e uma interpretação globalmente cuidada, onde é, obviamente de destacar o trabalho de Sharon Stone. As acusações de misoginia ou de homofobia parecem-me deslocadas. Será que não pode haver suspeitos de crimes nestes grupos, tal como em qualquer outro? 
A verdade é que “Instinto Fatal” foi um sucesso de bilheteira, e não correu nada mal junto da grande maioria da crítica internacional. Em estreia fez mais de 120 milhões de dólares e lançou Sharon Stone para a mitologia de Hollywood. Alguns anos depois, 2006, surgiria a sequela, “Basic Instinct 2”, dirigida por Michael Caton-Jones, com Sharon Stone a viver em Londres, mas ainda atraída por picadores de gelo. Desta feita é um psiquiatra que a acompanha (David Morrissey), que se deixa enredar no jogo da sedução. Mas o êxito não foi o mesmo. Um picador de gelo não deve voltar ao local onde fora feliz.

INSTINTO FATAL
Título original: Basic Instinct
Realização: Paul Verhoeven (EUA, França, 1992); Argumento: Joe Eszterhas; Produção: William S. Beasley, Louis D'Esposito, Mario Kassar, Alan Marshall; Música: Jerry Goldsmith; Fotografia (cor): Jan de Bom; Montagem: Frank J. Urioste; Casting: Howard Feuer; Design de produção: Terence Marsh; Decoração: Anne Kuljian; Guarda-roupa: Nino Cerruti, Ellen Mirojnick; Maquilhagem: Audrey L. Anzures, Rob Bottin, Catherine Childers, Laura De'Atley, David Forrest, Virginia G. Hadfield, Paul LeBlanc, Vincent Prentice; Direcção de Produção: William S. Beasley, Cliff T.E. Roseman, Michael R. Sloan; Assistentes de realização: Louis D'Esposito, James Arnett, Joel Chernoff, Eric Jewett, Nina Kostroff-Noble, Charlie Picerni, Annie Spiegelman, Michael Viglietta; Departamento de arte: Dick Anderson, Stephen Myles Berger, Mark Billerman, Richard W. Clot, Daniel Kelly, Anne Kuljian, Barbara Mesney, Joseph Musso, Gary E. Roloff; Som: David A. Arnold, Ron Bartlett, Scott Hecker, Zeke Richardson, Fred Runner, Michael R. Sloan, Nelson Stoll, Marvin Walowitz, etc.; Efeitos especiais: John Frazier; Efeitos visuais: Rob Bottin, Al Magliochetti; Companhias de produção:Carolco Pictures, Canal+; Intérpretes: Michael Douglas (Detective Nick Curran), Sharon Stone (Catherine Tramell), George Dzundza (Gus), Jeanne (Dr. Beth Garner), Denis Arndt (Tenente Walker), Leilani Sarelle (Roxy), Bruce A. Young (Andrews), Chelcie Ross (Capitão Talcott), Dorothy Malone (Hazel Dobkins), Wayne Knight (John Correli), Daniel von Bargen (Tenente Nilsen), Stephen Tobolowsky (Dr. Lamott), Benjamin Mouton, Jack McGee, Bill Cable, Stephen Rowe, Mitch Pileggi, Mary Pat Gleason, Freda Foh Shen, William Duff-Griffin, James Rebhorn, David Wells, Bradford English, Mary Ann Rodgers, Adilah Barnes, Irene Olga López, Juanita Jennings, Craig C. Lewis, Michael David Lally, Peter Appel, Michael Halton, Keith McDaniel, Eric Poppick, Ron Cacas, Kayla Blake, Julie Bond,etc. Duração: 128 minutos; Distribuição em Portugal: Studio Canal (DVD); Classificação etária: M/ 18 anos; Data de estreia em Portugal: 7 de Agosto de 1992.


SHARON STONE (1958 -)
A carreira de Sharon Stone teria sido diferente certamente se não tivesse aceitado interpretar “Instinto Fatal” e demonstrar que era “loura natural” ao descruzar as pernas num interrogatório policial, suspeita de ser a assassina de um ex-cantor de rock morto selvaticamente com um picador de gelo, durante uma tórrida cena de sexo. Mas foi ela que protagonizou o mais quente e provocador gesto visto no cinema norte-americano no início da década de 90 do século passado. Por isso ficou na história. 
Sharon Yvonne Stone nasceu a 10 de Março de 1958, em Meadville, Pennsylvania, EUA, filha Dorothy e Joseph William Stone II, um operário industrial. Até aos 15 anos estudou na Saegertown High School, na Pennsylvania e, pouco depois, na Edinboro State University of Pennsylvania, tirando o curso de escrita criativa e artes. Pensava seguir Direito, mas os filmes ocupavam-lhe os tempos livres, sobretudo os de Fred Astaire e Ginger Rogers. Aos 17 anos, increveu-se no concurso de beleza Miss Crawford County e ganhou. Foi empregada na cadeia McDonald, modelo na Eileen Ford Model Agency, entrou em anúncios publicitário, e em 1980, estreou-se no cinema, numa pequena aprição no filme de Woody Allen, “Recordações”. No seguinte, “A Bênção do Anjo Negro”, de Wes Craven já tinha umas linhas de texto. Iniciou assim uma carreira de actriz, em filmes medíocres, com uma ou outra exepção. Em 1984, casou com Michael Greenburg, produtor de “MacGyver”, mas divorciou-se dois anos depois. Em 1990, ao lado de Arnold Schwarzenegger, fez-se notar em “Desafio Total”. Uma sessão de nus na revista “Playboy” deu-lhe passaporte para o papel de Catherine Tramell, em “Instinto Fatal” (1992). Foi o sucesso imediato. Nomeada para o Globo de Ouro pela primeira vez, haveria de ganhar em 1996, com “Casino”. Seria ainda nomeada por “Os Poderosos” e “A Musa”. Para o Oscar, seria nomeada igualmente pelo seu trabalho em “Casino”. Não deixou de aparecer em filmes medíocres, mas começou a surgir em obras de um outro fôlego, onde deu bem a medida do seu talento: The Quick and the Dead (Rápida e Mortal), de Sam Raimi; Casino (Casino), de Martin Scorsese; Roseanne (TV); Diabolique (Diabólica), de Jeremiah S. Chechik; Last Dance (A Última Dança), de Bruce Beresford; The Mighty (Os Poderosos), de Peter Chelsom; The Muse (A Musa), de Albert Brooks; Gloria (Gloria), de Sidney Lumet; Cold Creek Manor (A Casa de Campo), de Mike Figgis; Broken Flowers (Broken Flowers - Flores Partidas), de Jim Jarmusch; Bobby (Bobby), de Emilio Estevez; Alpha Dog, de Nick Cassavetes, entre outros. Entretanto, casou e divorciou-se novamente (1998 - 2004), desta feita com o jornalista Phil Bronstein, editor do jornal “San Francisco Examiner”. No inquérito da revista “Empire” sobre as "100 Sexiest Stars in Film History", apreceu em 49 lugar. Já no “Playboy Magazine”, em idêntica auscultação sobre as "100 Sexiest Stars of the Century", surgiu em 24 lugar. No “People Magazine” surge entre as "50 Most Beautiful People" e as "25 Most Intriguing People".


Filmografia

Como actriz: 1980: Stardust Memories (Recordações), de Woody Allen; 1981: Les uns et les autres (Uns e Outros), de Claude Lelouch; Les uns et les autres (Uns e Outros), de Claude Lelouch (TV); 1981: Deadly Blessing (A Benção do Anjo Negro), de Wes Craven; 1982: Silver Spoons (TV); Not Just Another Affair (TV); 1983: Remington Steele (Quase Modelo, Quase Detective) (TV); Bay City Blues (TV); 1984: Irreconcilable Differences (Divórcio em Hollywood), de Charles Shyer; Magnum, P.I. (TV); Mike Hammer (TV); 1985: T.J. Hooker (TV); Calendar Girl Murders (Assassino das Raparigas do Calendário), de William A. Graham; King Solomon’s Mines (As Minas de Salomão), de J. Lee Thompson; 1986: Mr. and Mrs. Ryan (TV); 1987: Allan Quatermain and the Lost City of Gold (As Minas de Salomão II), de Gary Nelson; Police Academy 4: Citizens on Patrol (Academia de Polícia 4: A Patrulha do Cidadão), de Jim Drake; Cold Steel (Arma Branca), de Dorothy Ann Puzo; 1988: Nico (Nico - À Margem da Lei), de Andrew Davis; Badlands 2005 (TV); Action Jackson (Action Jackson - Homem de Acção), de Craig R. Baxley; 1988–1989: War and Remembrance (TV); Tears in the Rain (Romance Impossível) (TV); 1989: Beyond the Stars (Dois Amigos, Dois Destinos), de David Saperstein; 1990: Blood & Sand (Sangue e Arena), de Javier Elorrieta; Total Recall (Desafio Total), de Paul Verhoeven; 1991: He Said, She Said (A Guerra dos Sexos), de Ken Kwapis, Marisa Silver; Year of the Gun (Brigadas Vermelhas), de John Frankenheimer; Scissors (Violada e Perseguida), de Frank De Felitta; Diary of a Hitman (Contratado para Matar), de Roy London; 1992: Basic Instinct (Instinto Fatal), de Paul Verhoeven; Where Sleeping Dogs Lie (Cães Adormecidos), de Charles Finch; 1993: Sliver (Violação de Privacidade), de Phillip Noyce; Last Action Hero (O Último Grande Herói), de John McTiernan; 1994: The Specialist (O Especialista), de Luis Llosa; Intersection (Encruzilhada), de Mark Rydell; The Larry Sanders Show (TV); 1995: The Quick and the Dead (Rápida e Mortal), de Sam Raimi; Casino (Casino), de Martin Scorsese; Roseanne (TV); 1996: Diabolique (Diabólica), de Jeremiah S. Chechik; Last Dance (A Última Dança), de Bruce Beresford; 1998: Sphere (A Esfera), de Barry Levinson; The Mighty (Os Poderosos), de Peter Chelsom; Antz (Formiga Z), de Eric Darnell, Tim Johnson (voz); 1999: The Muse (A Musa), de Albert Brooks; Gloria (Gloria), de Sidney Lumet; Simpatico (Puro Sangue), de Matthew Warchus; The Sissy Duckling (TV);  Happily Ever After: Fairy Tales for Every Child (TV); 2000: Women Love Women ou If These Walls Could Talk 2 (Amor no Feminino) (TV); Beautiful Joe (Hush - Um Sonho de Mulher), de Stephen Metcalfe; Picking Up the Pieces (Uma Mão Cheia De Surpresas), de Alfonso Arau; 2001-2002: Harold and the Purple Crayon (TV); 2003: Cold Creek Manor (A Casa de Campo), de Mike Figgis; The Practice (Causa Justa (TV); 2004: Catwoman (Catwoman), de Pitof; A Different Loyalty (Lealdade Traída), de Marek Kanievska; 2005: Broken Flowers (Broken Flowers - Flores Partidas), de Jim Jarmusch; Kurtlar Vadisi (TV); Higglytown Heroes (TV); Will & Grace (TV); 2006: Basic Instinct 2 (Instinto Fatal 2), de Michael Caton-Jones; 2006: Bobby (Bobby), de Emilio Estevez; Alpha Dog, de Nick Cassavetes; Huff (TV); 2007: Democrazy (curta-metragem); If I Had Known I Was a Genius (Se Eu Soubesse Que Era Um Génio), de Dominique Wirtschafter; When a Man Falls in the Forest, de Ryan Eslinger; 2008: The Year of Getting to Know Us (O Ano em Que nos Conhecemos), de Patrick Sisam; $5 a Day (A Culpa Não Foi Minha!), de Nigel Cole; 2009: Streets of Blood (Ruas de Sangue), de Charles Winkler (Vídeo); 2010: Law & Order: Special Victims Unit (Lei & Ordem: Unidade Especial) (TV); 2011: Largo Winch II (Largo Winch 2 - Conspiração na Birmânia), de Jérôme Salle; 2012: The Mule (Tráfico na Fronteira), de Gabriela Tagliavini; 2013: Lovelace (Lovelace), de Rob Epstein, Jeffrey Friedman; Gods Behaving Badly, de Marc Turtletaub; 2014: Fading Gigolo (Quase Gigolo), de John Turturro; Un ragazzo d'oro, de Pupi Avati; Lyubov v bolshom gorode 3, de Marius Balchunas e David Dodson; 2015: I Life on the Line, de David Hackl; Savva. Serdtse voina, de Maksim Fadeev (voz); Agent X (TV); 2016: What About Love, de Klaus Menzel; Mothers Day, de Paul Duddridge, Nigel Levy; Running Wild, de Alex Ranarivelo; The 11th, de Xavier Nemo;

10 DE NOVEMBRO DE 2015


OS FABULOSOS IRMÃOS BAKER (1989)

Steve Kloves, o realizador de “The Fabulous Baker Boys”, é sobretudo conhecido como argumentista. Antes, porém, de se ter notabilizado como argumentista da série “Harry Potter”, que acompanhou de 2001, com “Harry Potter e a Pedra Filosofal” até 2011, com “Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2”, ele escreveu dois filmes que dirigiu (além de “Os Fabulosos Irmãos Baker”, sua estreia na realização, contabiliza ainda “Unha com Carne”, 1993), e outros dois, de realizadores diferentes, “Adeus Inocência”, de Richard Benjamin, e Wonder Boys – Prodígios, de Curtis Hanson. Já em 2012 escreve “O Fantástico Homem-Aranha”, de Marc Webb. Trata-se, portanto, de um sólido e reputado argumentista, que, no entanto, tem em “Os Fabulosos Irmãos Baker” a sua coroa de glória até ao presente. Certamente que Harry Potter lhe terá rendido mais lucros para a sua conta bancária, mas a sua estreia na realização marcava o início de uma carreira que se poderia antever grandiosa. Não o quis até agora, mas esta história de dois irmãos que andam de bar em bar e de salão de hotel em salão de hotel tocando as suas pianadas para públicos não muito exigentes é um filme cheio de encanto e fascínio, tocado pela nostalgia e o desencanto de tempos passados e de guerrilhas internas entre irmãos. Jack Baker (Jeff Bridges) é o irmão artista e solteiro que gosta de jazz, tem desapego ao dinheiro, a sua felicidade é tocar num clube de negros onde é estimado e devidamente apreciado, enquanto Frank Baker (Beau Bridges) é o cérebro financeiro que faz contas, organiza contratos e percebe que o futuro, a continuar o duo a solo, não será radioso. Tem família e o sentido das responsabilidades, como soe dizer-se. Por isso resolvem contratar uma voz feminina, e depois de delirantes audições, escolhem Susie Diamond (Michelle Pfeiffer), que rejuvenesce o trabalho dos Bakers e reabastece a conta, mas acaba por aprofundar a crise, quando Jack se apaixona pela recém-chegada de bela voz e escultural presença.


O filme passa-se em Seattle (apesar de algumas cenas terem sido rodadas noutros locais, como por exemplo no Ambassador Hotel, em Wilshire Boulevard, Los Angeles), e está banhado por uma dupla emoção quanto a ambientes e personagens. Por um lado, há os locais sofisticados onde, na mó de cima, tocam; por outro, abundam as espeluncas onde são forçados a ganhar uns cobres para sobreviverem. Com a companhia de Susie Diamond tudo se modifica e percebe-se facilmente porquê. Michelle Pfeiffer é a magia feita pessoa, a sedução em estado puro e quando se alonga por cima de um piano, a cantar “Makin' Whoopee!”, compreende-se perfeitamente o que quer dizer sedução. Deve referir-se ainda, porque de toda a justiça, que Michelle Pfeiffer canta com a sua própria voz e que tanto Jeff Bridges como Beau Bridges tocam realmente piano, depois de terem acompanhado Dave Grusin, o autor da excelente partitura, e que funcionou como professor dos irmãos Bridges.
O filme pode obedecer até a uma fórmula que já teve vários cultores ao longo da história do cinema, mas a verdade é que a sensibilidade e delicadeza da câmara de Steve Kloves são fascinantes, e o trabalho dos actores admirável. Em diferentes registos, os irmãos Bridges são uns excelentes Baker Brothers e Michelle Pfeiffer é simplesmente divina desde a sua aparição até ausentar-se, para desdita nossa. Este será seguramente um dos seus melhores filmes, ela que tem uma carreira bem recheada de bons filmes e de interpretações memoráveis. A certa altura do filme pergunta-se “Does anyone really want to hear ‘Feelings' again?” Claro que só se pode assegurar que sim.  

OS FABULOSOS IRMÃOS BAKER
Título original: The Fabulous Baker Boys
Realização: Steve Kloves (EUA, 1989); Argumento: Steve Kloves; Produção: Sydney Pollack, Julie Bergman Sender, Bill Finnegan, Robin Forman Howard, Mark Rosenberg, Paula Weinstein, Courtney Silberberg; Música: Dave Grusin; Fotografia (cor): Michael Ballhaus; Montagem: William Steinkamp; Casting: Wallis; Design de produção: Jeffrey Townsend; Decoração: Anne H. Ahrens; Guarda-roupa: Lisa Jensen; Maquilhagem: Ronnie Specter, Jeanne Van Phue; Direcção de Produção: Bill Finnegan; Assistentes de realização: Cherylanne Martin, Charles Myers, Tracy Rosenthal-Newsom; Departamento de arte: Bruce Bellamy, Ed Dupra, Amy Feldman, Don Gibbin Jr., Charles T. Gray, Clay A. Griffith, Ross Harpold, Michael Muhlfriedel, Walter Wall, etc.; Som: Gary Alexander, John Haeny, J. Paul Huntsman, Stephan von Hase, Ian Wright, Brad Sherman; Efeitos especiais: Robert E. Worthington; Companhias de produção: Gladden Entertainment, Mirage, Tobis; Intérpretes: Jeff Bridges (Jack Baker), Michelle Pfeiffer (Susie Diamond), Beau Bridges (Frank Baker), Ellie Raab (Nina), Xander Berkeley (Lloyd), Jennifer Tilly (Monica Moran), Dakin Matthews (Charlie), Ken Lerner (Ray), Albert Hall (Henry), Terri Treas, Gregory Itzin, Bradford English, David Coburn, Todd Jeffries, Gregory James, Nancy Fish, Beege Barkette, Del Zamora, Howard Matthew Johnson, Stuart Nisbet, Robert Henry, Drake, Martina Finch, Winifred Freedman, Wendy Goldman, Karen Hartman, D.D. Howard, Lisa Raggio, Vickilyn Reynolds, Krisie Spear, Carole Ita White, Kirsten Ashley, Helen Kelly, etc. Duração: 114 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 2 de Março de 1990.
  

MICHELLE PFEIFFER (1958 - )
Michelle Marie Pfeiffer nasceu a 29 de Abril de 1958, em Santa Ana, California, EUA. Filha de Donna Jean e de Richard Pfeiffer, este último a trabalhar na indústria do ar condicionado. Pfeiffer estudou na Fountain Valley High School até 1976, depois no Golden West College, tentando ser reporter, enquanto trabalhava num supermercado. Conta-se que o seu primeiro papael como artista terá sido o de Alice, na “Main Street Electrical Parade, na Disneyland”, em meados dos anos 1970. Entretanto casa com o actor e realizador Peter Horton em 1981, divorciando-se pouco depois. Tem uma relação de três anos com o actor Fisher Stevens. Em 1993, adopta uma menina, Claudia Rose. Em November casa com o davogado, escritor e produtor David E. Kelley, criador de “Picket Fences” (1992), ”Chicago Hope” (1994), “Causa Justa” (1997), ou “Boston Public” (2000). Em 1994, tiveram um filho, John Henry.
A actriz inicia-se na televisão, em 1978, na série “Fantasy Island” e noutras, estreando-se no cinema em 1980, com um pequeno papel “The Hollywood Knights”. Posteriormente, ganha protagonismo em “Grease 2”, mas só em 1983, no filme de Brian De Palma, “Scarface”, ao lado de Al Pacino e F. Murray Abraham, ela se impõe. Passa por filmes interessantes, como “Sweet Liberty”, “The Witches of Eastwick”, “Married to the Mob” e “Tequila Sunrise”, até surgir em “Dangerous Liaisons”, de Stephen Frea, e “The Fabulous Baker Boys”, de Steven Kloves, onde se impõe definitivamente como uma grande actriz. Surgem indicações a Oscar, a Globos de Ouro (ganha um com “Love Field”, de Jonathan Kaplan), e passa por Portugal para filmar “The Russia House”, de Fred Schepisi. É a Mulher-Gato, em “Batman Returns”, de Tim Burton, e surge em grande no filme de Martin Scorsese, “The Age of Innocence”. Continua a trabalhar mas com menos regularidade, afirmando que se quer dedicar mais à família. Em Agosto de 2007, é-lhe atribuída uma Estrela no Wall of Fame de Hollywood. Surge em 39º lugar a lista-inquérito da revista Empire, "The Top 100 Movie Stars of All Time" (Outubro de 1997). Noutro inquérito da mesma revista, sobre as 100 Sexiest Stars aparece em terceiro lugar. Foi considerada a actriz que melhor veste em Hollywood.

Filmografia

Como actriz: 1978-1981: Fantasy Island (TV); 1979: CHiPs (TV); The Solitary Man (TV); Delta House (TV); 1980: The Hollywood Knights, de Floyd Mutrux; Falling in Love Again (Começar de Novo), de Steven Paul; Enos (TV); B.A.D. Cats (TV); 1981: Charlie Chan and the Curse of the Dragon Queen (Charlie Chan e a Maldição da Rainha), de Clive Donner; Filhos do Desespero (TV); Splendor in the Grass (TV); Callie & Son (TV); 1982: Grease 2 (Grease 2), de Patricia Birch; 1983: Scarface (Scarface - A Força do Poder), de Brian De Palma; 1985: Into the Night (Pela Noite Dentro), de John Landis; Ladyhawke (A Mulher Falcão), de Richard Donner; ABC Afterschool Specials (TV); 1986: Sweet Liberty (Doce Liberdade), de Alan Alda; 1987: Amazon Women on the Moon (As Amazonas na Lua), de John Landis (episódio "Hospital"); The Witches of Eastwick (As Bruxas de Eastwick), de George Miller; Great Performances: Tales from the Hollywood Hills (TV); 1988: Married to the Mob (Viúva... Mas Não Muito), de Jonathan Demme; Tequila Sunrise (Intriga ao Amanhecer), de Robert Towne; Dangerous Liaisons (Ligações Perigosas), de Stephen Frears; 1989: The Fabulous Baker Boys (Os Fabulosos Irmãos Baker), de Steven Kloves; 1990: The Russia House (A Casa da Rússia), de Fred Schepisi; 1991: Frankie and Johnny (Frankie e Johnny), de Garry Marshall; 1992: Batman Returns (Batman Regressa), de Tim Burton; Love Field (Contra Tudo), de Jonathan Kaplan; 1993: Age of Innocence (A Idade da Inocência), de Martin Scorsese; Os Simpsons (TV); 1994: Wolf (Lobo), de Mike Nichols; 1995: Dangerous Minds (Mentes Perigosas), de John N. Smith; Picket Fences (TV); 1996: Up Close and Personal (Íntimo & Pessoal), de Jon Avnet; To Gillian On Her 37th Birthday (A Magia de Gillian), de Michael Pressman; One Fine Day (Um Dia em Grande), de Michael Hoffman; 1997: A Thousand Acres (Amigas e Rivais), de Jocelyn Moorhouse; 1998: The Prince of Egypt (O Príncipe do Egipto), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells (voz); 1999: Deep End of the Ocean (Profundo Como o Mar), de Ulu Grosbard; A Midsummer Night's Dream (Sonho de Uma Noite de Verão), de Michael Hoffman; The Story of Us (Vida a Dois), de Rob Reiner; 2000: What Lies Beneath (A Verdade Escondida), de Robert Zemeckis; 2001: I am Sam (I Am Sam - A Força do Amor), de Jessie Nelson; 2002: White Oleander (A Flor do Mal), de Peter Kosminsky; 2003: Sinbad: Legend of the Seven Seas (Sinbad - A Lenda dos Sete Mares), de Tim Johnson e Patrick Gilmore (voz); 2007: I Could Never Be Your Woman (Nem Contigo... Nem Sem Ti!), de Amy Heckerling; 2007: Hairspray (Hairspray), de Adam Shankman; 2007: Stardust (Stardust - O Mistério da Estrela Cadente), de Matthew Vaughn; 2009: Chéri (Chéri), de Stephen Frears; 2009: Personal Effects (Por Amor...), de David Hollander; 2011: New Year's Eve (Ano Novo, Vida Nova!), de Garry Marshall; 2012: Dark Shadows (Sombras da escuridão), de Tim Burton; People Like Us (Bem-vindo à Vida), de Alex Kurtzman; 2013: Malavita (Malavita), de Luc Besson.

3 DE NOVEMBRO DE 2015



GINGER E FRED (1986)


 “Ginger e Fred” estava destinado inicialmente a ser um episódio de uma série televisiva de que fariam parte, entre outros realizadores, Michelangelo Antonioni e Franco Zeffirelli. O projecto televisivo gorou-se, mas Fellini, mercê de contactos internacionais, conseguiu levar o seu filme avante, e o resultado, na sua simplicidade e linearidade de processos, parece-nos ser uma obra admirável, de grande sentido crítico e poético, retrato impiedoso do nosso tempo, dominado pela televisão, pelo terrorismo internacional, pela instabilidade (de que é exemplo, esse “monstruoso” programa de televisão, onde se exploram - e se especula - velhas glórias do passado, agora reduzidas a ruínas). Mas o olhar de Fellini transcende o grotesco, a sua ternura invade tudo e todos, localizando-se preferencialmente nessa galeria de vítimas da engrenagem televisiva, actores e convidados de um “show” onde os “freaks” não se encontram afinal onde a uma primeira vista parecem estar, mas, muito pelo contrário, por detrás das câmaras, movimentando os cordelinhos do desencanto e da humilhação. Em 1986, Fellini intuía no que se poderia transformar a televisão, mas não conseguia, apesar de tudo, ir tão longe na sua premonição quanto a própria televisão o faria na realidade, anos mais tarde. Na época da estreia, escrevi sobre o filme que, “muito embora algumas situações excessivas (e que se sentem sobretudo na primeira parte)”, gostava muito da obra. Inocente que eu era, quando referia os excessos dessa televisão medonha e omnipresente. Afinal Fellini pecava, se pecava, por defeito, não por excesso. 


Amelia Bonetti (Giulietta Masina) e Pippo Botticella (Marcello Mastroianni) constituíram uma parelha de bailarinos italianos que tiveram alguma glória nos anos 40, na sua juventude, apresentando-se a imitar Ginger Rogers e Fred Astaire, num número de certo sucesso chamado precisamente "Ginger e Fred". Trinta anos depois de se terem separado, regressam, por entre dúvidas e angústias, para recordarem esses tempos frente aos telespectadores, depois de uma estação de televisão de Roma os convidar para voltarem a apresentar o seu número num programa de fim de ano. Entre as reminiscências do passado e os problemas das suas vidas particulares, a dupla ainda tenta apresentar o seu número como nos velhos tempos, mas vêem esta intenção frustrada ao confrontarem-se com o universo frio e mecânico dos bastidores da TV. Tudo mudou, nada é como dantes. Isso percebe Amélia logo que é recebida na estação de caminho-de-ferro por uma assistente de produção que recolhe aqui e ali os corpos dos participantes do grande show de Natal para os transportar para um hotel de terceira, onde irão esperar pelo dia e a hora de prestarem provas, de tentarem recuperar o tempo perdido ou de assegurar a raridade do seu projecto, quer sejam velhos bailarinos, músicos anões, transexuais, gloriosos almirantes, imitadores de profissão. Para o pessoal da televisão, bem assim como para todos os que fazem o programa, cada um desses destroços da vida nada mais é do que uma nova concepção de carne para canhão, palhaços baratos para ocuparem tempo e ganhar audiência com exotismos de feira. Um novo circo dos horrores, uma nova parada de “freaks” se anuncia. Cada um deles irá apresentar o seu número e regressar a suas casas mais despojados de si do que nunca, depois dos seus 5 minutos de efémera glória num estúdio de televisão. No caso de “Ginger e Fred”, a falta de luz durante a exibição permite-lhes um momento de hesitação, com Pippo Botticella a propor uma retirada estratégica e Amelia Bonetti a procurar levar o revivalismo até ao fim. O que acontece. Será na estação de caminhos-de-ferro que ambos de despedem, provavelmente para sempre. Definitivamente para sempre de “Ginger e Fred”.
Dir-se-ia que Fellini afinal, para criticar a televisão (sobretudo a televisão privada, que já por essa altura enxameava a Itália, alargando depois a sua influência a toda a Europa e todo o mundo), explora, ele também, o mesmo universo. Mas a verdade é que, para explorados e ofendidos, só existe no olhar do cineasta um profundo calor, uma enorme ternura, a compreensão, o amor, enquanto as câmaras de TV avançam para as suas personagens como ameaçadoras silhuetas de tanques. Fellini reencontra aqui o seu universo mais querido e mais pessoal: o mundo do espectáculo, com as suas luzes e as suas sombras, a memória, as vítimas indefesas de uma sociedade hostil e arrogante para com os mais fracos. Estas são as novas “Luci dei Varietá”.

GINGER E FRED
Título original: Ginger & Fred
Realização: Federico Fellini (Itália, França, RFA, 1986); Argumento: Federico Fellini, Tonino Guerra, Tullio Pinelli; Música: José Padilla, Nicola Piovani, e ainda Irving Berlin (canção "Let's Face the Music and Dance"); Fotografia (cor): Tonino Delli Colli, Ennio Guarnieri; Montagem: Nino Baragli, Ugo De Rossi, Ruggero Mastroianni; Casting: Gianni Arduini; Design de produção: Dante Ferretti; Direcção artística: Nazzareno Piana; Decoração: Gianfranco Fumagalli, Angelo Santucci; Guarda-roupa:  Danilo Donati; Maquilhagem: Adriano Carboni, Rino Carboni, Adonella De Rossi, Massimo De Rossi, Renato Francola, Alfredo Tiberi; Direcção de produção: Franco Coduti, Raymond Leplont, Tullio Lullo, Roberto Mannoni, Franco Marino, Walter Massi, Fernando Rossi, Viero Spadoni; Assistentes de realização: Gianni Arduini, Daniela Barbiani, Eugenio Cappuccio; Departamento de Arte: Giuliano Geleng, Rinaldo Geleng, Luigi Sergianni, Italo Tomassi; Som: Fabio Ancillai, Fausto Ancillai, Mark Headley, Sergio Marcotulli, Tommaso Quattrini; Efeitos especiais: Adriano Pischiutta; Produção: Heinz Bibo, Alberto Grimaldi; Intérpretes: Giulietta Masina (Amelia Bonetti - Ginger); Marcello Mastroianni (Pippo Botticella - Fred), Franco Fabrizi (Apresentador de Show), Frederick Ledebur (Almirante Aulenti), Augusto Poderosi (Travesti), Martin Maria Blau (Assistente de realizador), Jacques Henri Lartigue (Padre Gerolamo), Totò Mignone (Totò), Ezio Marano (Intelectual), Antoine Saint-John, Friedrich von Thun, Antonio Iuorio, Barbara Scoppa, Elisabetta Flumeri, Salvatore Billa, Ginestra Spinola, Stefania Marini, Francesco Casale, Gianfranco Alpestre, Filippo Ascione, Elena Cantarone, Cosima Chiusoli, Claudio Ciocca, Sergio Ciulli, Roberto De Sandro, Vittorio De Bisogno, Fabrizio Fontana, Laurentina Guidotti, Giorgio Iovine, Danika La Loggia, Isabelle Therese La Porte, Luigi Leoni, Luciano Lombardo, Mariele Loreley, Elena Magoia, Franco Marino, Mauro Misul, Jurgen Morhofer, Pippo Negri, Antonietta Patriarca, Nando Pucci Negri, Luigi Rossi, Franco Trevisi, Patti Vailati, Narciso Vicario, Hermann Weisskopf, Daniele Aldrovandi, Ennio Antonelli, Claudio Botosso, Eolo Capritti, Mario Conocchia, Gabriella Di Luzio, Barbara Montanari, Federica Paccosi, Alessandro Partexano, Leonardo Petrillo, Moana Pozzi, etc. Duração: 125 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais/VHS; Classificação etária: M/ 12 anos.


GIULIETTA MASINA (1920-1994)
Giulia Anna Masina nasceu a 22 de Fevereiro de 1920, em San Giorgio di Piano, na província de Bolonha, Itália, e viria a falecer em Roma, a 23 de Março de 1994, com 74 anos. Filha de Gaetano Masina, violinista e professor de música, e de Angela Flavia Pasqualin, professora, passou boa parte de sua adolescência em Roma com uma tia viúva. Estudou Letras e Filosofia na Universidade de Roma, mas durante os estudos a sua paixão era já o teatro e a arte de representar. Entre 1941 e 1942, participou em vários espetáculos de prosa, dança e música no teatro universitário. Trabalha na rádio, onde encontra Fellini, que escreve os textos. Em 30 de Outubro de 1943, casa-se com Federico Fellini, com quem trabalha intensamente durante alguns anos. No cinema, estreia-se em 1946 com um pequeno papel na obra de Roberto Rossellini “Paisà”. Dois anos mais tarde, obtém o primeiro papel importante no filme “Senza pietà”, de Alberto Lattuada. Mas alcança o sucesso internacional com a figura de Gelsomina, em “La Strada” (1954), e depois com o de Cabiria, em “Le notti di Cabiria” (1957), este último que lhe traria o prémio de Melhor Actriz no Festival de Cannes. Ambos dirigidos por Fellini que considerava Giulietta Masina a sua “musa” e a sua “inspiração”. Criou personagens entre o drama e a comédia, na linha do herói de Chaplin, que a tornaram incomparável.
Fellini morreu a 31 de Outubro de 1993, com 73anos, Giulietta Masina sobrevive-lhe apenas alguns meses. Morre de cancro de pulmão, a 23 de Março de 1994, com 74 anos. No funeral, o trompetista Mauro Maur tocou, a seu pedido, o tema de “La Strada”, de Nino Rota. Ela e Fellini tiveram momentos bons e maus, mas foi uma história de amor imortal.

Filmografia:

Como actriz: 1946: Paisà (Libertação) de Roberto Rossellini; 1948: Senza pietà (Sem Piedade) de Alberto Lattuada; 1950: Luci del varietà, de Federico Fellini; 1951: Sette ore di guai (Sete Horas de Sarilhos), de Vittorio Metz e Marcello Marchesia; Cameriera bella presenza offresi... (Criada, Oferece-se...), de Giorgio Pàstina; Persiane chiuse (Persianas Corridas), de Luigi Comencini; 1952: Wanda la peccatrice (Wanda, a Pecadora), de Duilio Coletti; Il romanzo della mia vita, de Lionello De Felice; Lo sceicco bianco (O Sheik Branco), de Federico Fellini; Europe ‘51 (Europa 51), de Roberto Rossellini; 1953: Ai margini della metropoli (À Margem da Metrópole) de Carlo Lizzani; Via Padova 46 (A Minha Aventura de Amor), de Giorgio Bianchi; 1954: Donne proibite (Vidas Proibidas), de Giuseppe Amato; Cento anni d'amore (Cem Anos de Amor), filme em episódios de Lionello de Felice, episódio “Purification”; La Strada (A Estrada), de Federico Fellini; 1955: Buonanotte... avvocato! (Não Venhas Tarde), de Giorgio Bianchi; 1955: Il bidone (O Conto do Vigário), de Federico Fellini; 1957: Le notti di Cabiria (As Noites de Cabíria), de Federico Fellini; 1958: Fortunella, de Eduardo De Filippo; 1958: Nella città dell'inferno (As Grades do Inferno) de Renato Castellani;1959: Jons und Erdme, de Victor Vicas; 1960: Das Kunstseidene Mädchen, de Julien Duvivier;1965: Giulietta degli spiriti (Julieta dos Espíritos), de Federico Fellini; 1966: Scusi, lei è favorevole o contrario? (Como casar a nossa filha?), de Alberto Sordi; 1967: Non stuzzicate la zanzara (Não Provoquem a Rita), de Lina Wertmüller; 1969: The Madwoman of Chaillot (A louca de Chaillot), de Bryan Forbes; 1973: Eleonora (TV); 1976: Camilla (TV); 1985: Ginger e Fred (Ginger e Fred), de Federico Fellini; 1985: Sogni e bisogni, de Sergio Citti (TV); Perinbaba, de Juraj Jakubisko; 1986: Frau Holle, de Juraj Jakubisko; 1991: Aujourd'hui peut-être..., de Jean-Louis Bertuccelli.