sexta-feira, 29 de maio de 2015

9 DE JUNHO DE 2015


BELINDA, A ESCRAVA DO SILÊNCIO (1948)

Elmer Blaney Harris escreveu a peça de teatro que está na origem deste filme de Jean Negulesco. A peça parece ter sido inspirada em acontecimentos reais, ocorridos em Fortune Bridge, na Ilha do Príncipe Eduardo, onde o escritor tinha uma residência de verão. Elmer Blaney Harris, juntamente com Allen Vincent e Irma von Cube escreveram o argumento do filme, que teve um certo sucesso crítico aquando da sua estreia, apesar de o tema ser considerado “um veneno” de bilheteira.
Grande parte desse sucesso deve-se ao seu elenco, onde sobressai uma magnífica Jane Wyman, no papel de uma jovem surda-muda que atravessa momentos dramáticos na sua existência, mas que está bem acompanhada pelo restante elenco e inclusive pelos responsáveis técnicos. Se não, vejamos as nomeações para Oscars que recebeu nesse ano: Melhor Filme, Melhor Realizador (Jean Negulesco), Melhor Actor (Lew Ayres), Melhor Actor secundário (Charles Bickford), Melhor Actriz secundária (Agnes Moorehead), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia (a preto e branco), Melhor Montagem, Melhor Som, Melhor Música, Melhor Direcção Artística (a preto e branco). Só Jane Wyman acabaria por ver reconhecido o seu talento, mas as 12 nomeações não deixam de ser significativas. Nos Globos de Ouro de 1949, Jane Wyman voltou a ganhar, mas “Johnny Belinda” seria igualmente consagrado como Melhor Filme do ano (juntamente com The Treasure of the Sierra Madre, de John Huston).
Este é um dos títulos de que guardo grata recordação dos meus tempos de criança, quando o vi pela primeira vez. No início da década de 50, Jane Wyman era uma das actrizes da minha particular estima, o que nunca esqueci. Esta recuperação é um tributo óbvio a essa memória. Presentemente é fácil reconhecer, todavia, que o filme justifica uma ampla atenção, mas está, quanto à sua realização, uns pontos abaixo de algumas obras deste mesmo período, dirigidas por cineastas com um outro elã (que não este relativo cinzentismo de Jean Negulesco). O que nos recoloca na ideia essencial: um filme interessante, é certo, um drama a resvalar para o melodrama, eficazmente contado e bem condimentado tecnicamente, mas uma obra impar fundamentalmente pelos actores que a interpretam, com Jane Wyman num desempenho absolutamente soberbo de contenção, de sobriedade, num papel que facilmente deslizaria para o rodriguinho fácil e o estereótipo. Uma contenção que iria manter ao receber o Oscar, proferindo o que se julga o mais curto discurso de aceitação da estatueta: "Ganhei este prémio mantendo a boca fechada e acho que vou fazê-lo novamente".


Inteiramente filmado na costa da Califórnia, EUA, a história “passa-se” todavia na ilha de Cape Breton, na Nova Escócia, uma província atlântica do Canadá, pouco tempo depois de terminada a II Guerra Mundial. Numa pequena aldeia de pescadores, vive Belinda McDonald (Jane Wyman), surda-muda, filha de Black McDonald (Charles Bickford), pai rude e vigoroso, dedicado ao trabalho e excessivamente protector e áspero na forma de tratamento. Em casa vive ainda a tia Aggie McDonald (Agnes Moorehead), que de alguma forma procura atenuar o ambiente. Belinda irá cruzar o seu destino com dois homens, Locky McCormick (Stephen McNally), que a irá violar numa noite de bebedeira, e um médico, o Dr Robert Richardson (Lew Ayres) que se interessa pelo seu caso, a ensina a comunicar, e acaba por ser acusado de ser o pai da criança que nasce da violação. Dizer mais do que isto, iria quebrar o interesse do desenlace da obra, mas por aqui se percebe já o tom melodramático do entrecho. Mas será muito justo, sublinhar ainda o trabalho de uma actriz, não nomeada, mas particularmente talentosa e que aqui tem igualmente um belíssimo trabalho: Jan Sterling, a jovem secretária do Dr Robert Richardson, por quem está apaixonada, e que acaba por se casar com Locky McCormick.
Casada com Ronald Reagan, que seria futuramente Presidente dos EUA, era Jane Wyman. Consta que o casamente se rompeu durante a rodagem de “Johnny Belinda” (divorciaram-se ainda em 1948), aparentemente por causa de uma paixão sua para com o seu par, Lew Ayres, mas este relacionamento não teve longa duração. De qualquer forma, Jane Wyman é a única ex-mulher de um Presidente dos EUA a ter recebido um Oscar. Depois deste período de grande relevo na carreira da actriz, esta só voltaria a ser muito popular, já na televisão, décadas depois, como um dos rostos da série “Falcon Crest”.

BELINDA, A ESCRAVA DO SILÊNCIO
Título original: Johnny Belinda
Realização: Jean Negulesco (EUA, 1948); Argumento: Irmgard VonCube, Allen Vincent, segundo peça teatral de Elmer Harris; Produção: Jerry Wald; Música: Max Steiner; Fotografia (p/b): Ted D. McCord; Montagem: David Weisbart; Direcção artística: Robert M. Haas; Guarda-roupa: Milo Anderson, Marie Blanchard, Patricia Davidson, Eugene Joseff, Frank Ricci; Decoração: William Wallace; Maquilhagem: Perc Westmore, Betty Delmont, Frank McCoy; Direcção de Produção: Frank Mattison; Assistentes de realização: Mel Dellar, Lee White; Departamento de arte: Harry Goldman, Frederick Kuhn; Som: Charles Lang; Efeitos especiais: Edwin B. DuPar, William C. McGann; Companhia de produção: Warner Bros.; Intérpretes: Jane Wyman (Belinda McDonald), Lew Ayres (Dr. Robert Richardson), Charles Bickford (Black MacDonald), Agnes Moorehead (Aggie MacDonald), Stephen McNally (Locky McCormick), Jan Sterling (Stella McCormick), Rosalind Ivan (Mrs. Poggety), Dan Seymour, Mabel Paige, Ida Moore, Alan Napier, Barbara Bates, Monte Blue, James Craven, Franklyn Farnum, Creighton Hale, Jonathan Hale, Holmes Herbert, Charles Horvath, Douglas Kennedy, Blayney Lewis, Alice MacKenzie, Ray Montgomery, 'Snub' Pollard, Jeff Richards, Richard Walsh, Joan Winfield, Ian Wolfe, Frederick Worlock, etc. Duração: 102 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Bros. (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 9 de Janeiro de 1950.


JANE WYMAN (1917-2007)
De Jane Wyman tenho a boa recordação de a ver, no início da década de 50, era eu criança, em três filmes que não mais esqueci: “O Despertar”, “Belinda, a Escrava do Silêncio” e “O Véu Azul”, todos eles de uma emoção galopante que a actriz dominava brilhantemente. Manter fidelidade a paixões de adolescente parece-me de bom-tom, sobretudo depois de revisitadas as obras em questão e verificadas algumas das virtudes. 
Sarah Jane Mayfield era o seu nome de baptismo, com nascimento anunciado n o dia 5 de Janeiro de 1917, em St. Joseph, Missouri, EUA. Viria a falecer, com 90 anos, no dia 10 de Setembro de 2007, em Palm Springs, California, EUA, devido a complicações causadas por diabetes e artrites. Com os pais separados, Gladys Hope Christian e Manning Jefferies Mayfield, e órfã de pai aos oito anos, foi adoptada por uma família, e passou a assinar Jane Faulks. Tentou sem êxito por essa altura a carreira de actriz. Aos 15 anos, apareceu num número de dança, numa coreografia de Busby Berkeley, em “Toureiro à Força”. Passou pela Universidade do Missouri, em 1932, lançou-se depois numa carreira de cantora de rádio, mudando o nome para Jane Durrell. Apareceu em muitos filmes como simples figurante e, em 1936, assinou um contracto com a Warner Bros., passando a chamar-se Jane Wyman. Por essa altura, apareceu ao lado do seu futuro marido, Ronald Reagan, em “O Diabo São os Rapazes” (1938) e “Um Miúdo dos Diabos” (1940). Na década de 40, especializou-se em papéis de comédias e melodramas, como “Farrapo Humano” (1945), “O Despertar” (1946) (nomeação para o Oscar),“Belinda, a Escrava do Silêncio” (1948) (Oscar e Globo), “Pânico nos Bastidores” (1950), “A Sorte Bate à Porta” (1951), “The Story of Will Rogers” (1952) “Algemas de Cristal”(1950), “Só Para Ti” (1952), “O Véu Azul” (1951) (nova nomeação e segundo Globo), “Sublime Expiação” (1954) (quarta nomeação),   “Vida da Minha Vida” (1953), “Orgulho Contra Orgulho” (1955), “Tudo o Que o Céu Permite” (1955) ou “Milagre à Chuva” (1956). Dedicou-se muito intensamente à televisão, sobretudo em “Jane Wyman Presents The Fireside Theatre” (1955), nomeada por duas vezes como Melhor Actriz em série dramática (57 e 59), e algumas décadas depois, nos anos 80, na série “Falcon Crest”, novamente nomeada para um Globo de Ouro (1983) e vencedora do Globo em 1984. Nos anos 90, retirou-se para o seu Rancho Mirage, na Califórnia, tendo falecido com 90 anos, na sua casa de Palm Springs, em 2007. No Hollywood Walk of Fame, Jane Wyman possui duas estrelas, uma referente a cinema, junto ao nº6600 do Hollywood Boulevard, outra relativa a televisão, cerca do nº 1600 de Vine Street. Casada (e divorciada) cinco vezes, duas delas com o mesmo hmem: Ernest Eugene Wyman (1933 – 1935), Myron Futterman (1937 - 1938), Ronald Reagan (1940 - 1948), Fred Karger (1952 - 1954), Fred Karge (1961 - 1965).


Filmografia
Como actriz /cinema: 1932: The Kid from Spain (Toureiro à Força), de  Leo McCarey; 1933: Gold Diggers of 1933 (Orgia Dourada), de Mervyn LeRoy; Elmer, the Great, de Mervyn LeRoy; 1934: College Rhythm, de Norman Taurog; Harold Teen, de Murray Roth; 1935: Broadway Hostess, de Frank McDonald; Stolen Harmony, de Alfred L. Werker; George White's 1935 Scandals, de George White, Harry Lachman, James Tinling; All the King's Horses, de Frank Tuttle; Rumba, de Marion Gering; 1936: Cain and Mabel (Caim e Mabel), de Lloyd Bacon; King of Burlesque, de Sidney Lanfield; Freshman Love, de William C. McGann; Anything Goes, de  Lewis Milestone; Bengal Tiger (O Tigre de Bengala), de Louis King; 1936: The Sunday Round-Up (curta-metragem); My Man Godfrey (Doidos Milionários), de Gregory La Cava; Gold Diggers of 1937 (Revista Maravilhosa de 1937), de Lloyd Bacon; Polo Joe (O Campeão de Polo), de William C. McGann; Here Comes Carter, de  William Clemens; Stage Struck, de  Busby Berkeley; 1937: The King and the Chorus Girl (O Rei e a Corista), de Mervyn LeRoy; Smart Blonde, de Frank McDonald; Ready, Willing and Able, de Ray Enright; Slim, de  Ray Enright; Little Pioneer (curta-metragem); Over the Goal, de  Noel M. Smith, Mr. Dodd Takes the Air, de Alfred E. Green; Public Wedding, de Nick Grinde; The Singing Marine, de Ray Enright; 1938: The Crowd Roars (A Multidão Vibra), de Jean Daumery; Brother Rat (O Diabo São os Rapazes), de William Keighley; Fouls for Scandals (Escândalos de Amor), de Mervyn LeRoy, Bobby Connolly; He Couldn't Say No, de Lewis Seiler; The Spy Ring, de Joseph H. Lewis;  The Kid from Kokomo (Eu Quero a Mamã!...), de Lewis Seiler; Wide Open Faces (Hotel de Gangsters), de Kurt Neumann; 1939: Tail Spin (Águias de Glória), de Roy Del Ruth; Kid Nightingale, de George Amy; Private Detective, de Noel M. Smith; Torchy Blane.. Playing with Dynamite, de Noel M. Smith; Flight Angels (Anjos na Terra), de Lewis Seiler; 1940: Brother Rat anda Baby (Um Miúdo dos Diabos), de Ray Enright; Alice in Movieland (curta-metragem); 1940: My Love Came Back, de Curtis Bernhardt; Alice in Movieland (curta-metragem); Tugboat Annie Sails Again (Quando uma Mulher é Valente), de  Lewis Seiler; Gambling on the High Seas, de George Amy; An Angel from Texas, de Ray Enright;  1941: You're in the Army Now, de Lewis Seiler; Bad Men of Missouri, de Ray Enright; 1941: Honeymoon for Three (Lua-de-Mel para Três), de Lloyd Bacon; The Body Disappears, de D. Ross Lederman; 1942: My Favorite Spy (O Rei dos Detectives), de Tay Garnett; Larceny, Inc (Não Vale a Pena Roubar), de Lloyd Bacon; Footlight Serenade (Serenata da Alegria) de Gregory Ratoff; 1943: Princess O'Rourke (Sua Alteza Quer Casar), de Norman Krasna; 1944: The Doughgirls (O Hotel da Barafunda), de James V. Kern; Make Your Own Bed, de Peter Godfrey; Crime by Night, de William Clemens; Hollywood Canteen (Sonho em Hollywood), de Delmer Daves; 1945: The Lost Weekend (Farrapo Humano) de Billy Wilder; One More Tomorrow (Quero-te), de Peter Godfrey; 1946: The Yearling (O Despertar), de Clarence Brown; Night and Day (Fantasia Dourada), de Michael Curtiz; 1947: Cheyenne (Feras Sangrentas), de Raoul Walsh; Magic Town (A Cidade Mágica), de William A. Wellman; 1948: Johnny Belinda (Belinda, a Escrava do Silênio), de Jean Negulesco; 1949: A Kiss in the Dark (Um Beijo no Escuro), de Delmer Daves; It's a Great Feeling (Mademoiselle Fifi), de David Butler; 1949: The Lady Takes a Sailor (Até Parece Mentira), de Michael Curtiz; 1950: Stage Fright (Pânico nos Bastidores), de Alfred Hitchcock; The Glass Menagerie (Algemas de Cristal), de Irving Rapper; 1951: Three Guys Named Mike (Uma Noiva Para Três), de Charles Walters; The Blue Veil (O Véu Azul), de Curtis Bernhardt; Thea Screen Director (curta-matragem); 1951: Starlift (O Teu Amor e Uma Cabana), de  Roy Del Ruth; Here Comes the Groom (A Sorte Bate à Porta), de Frank Capra; 1952: Just for You (Só Para Ti), de Elliott Nugent; The Story of Will Rogers, de Michael Curtiz; 1953: Let's Do It Again (A Meia-Noite do Amor), de Alexander Hall; 1953: So Big (Vida da Minha Vida), de Robert Wise; Three Lives, de Edward Dmytryk (curta-metragem); 1954: Magnificent Obsession (Sublime Expiação), de Douglas Sirk; 1955: All That Heaven Allows (Tudo o Que o Céu Permite), de Douglas Sirk; 1955: Oil Town ou Lady Gallant (Orgulho Contra Orgulho), de Robert Parrish; 1956: Miracle in the Rain (Milagre à Chuva), de Rudolph Maté; 1959: Holiday for Lovers (Namorados em Férias), de Henry Levin; 1960: Pollyanna (Pollyanna), de David Swift; 1962: Bon Voyage! (Viagem a Paris), de James Neilson; 1969: How to Commit Marriage (Casamento à Americana), de Norman Panama; 1987: Happy 100th Birthday Hollywood (documentário TV); 1996: Wild Bill: Hollywood Maverick (documentário); 1998: Off the Menu: The Last Days of Chasen's (documentário); 2002: The Making of 'Far From Heaven' (documentário TV).

Como actriz /televisão: 1954: Summer Playhouse; 1955: General Electric Theater; 1955-1958: Jane Wyman Presents The Fireside Theatre; 1958 e 1962: Wagon Train; 1959: Lux Playhouse; 1960: Checkmate; 1960: Westinghouse Desilu Playhouse; 1961: The Investigators; 1964 e 1967: Insight; 1966: Bob Hope Presents the Chrysler Theatre; 1968: The Red Skelton Show; My Three Sons; 1971: The Failing of Raymond; 1972: The Sixthe Sense; 1972-1973: The Bold Ones: The New Doctors; 1973: Amanda Fallon; 1974: Owen Marshall: Counselor at Law; 1979: The Incredible Journey of Doctor Meg Laurel; 1980: The Love Boat; Charlie's Angels; 1981-1990: Falcon Crest; 1993: Dr. Quinn, Medicine Woman.

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